domingo, 31 de outubro de 2010

Ciranda

Ninguém viu
a chuva que transbordou nos olhos dela
Tem importância não
era só goteira
Porque o telhado era de vidro
e se quebrou

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eu não consigo odiar ninguém...




Para os pés

Quando ele se foi
meu olhar acompanhou
o vazio que me ficou

Um olhar simples e duro
para os pés puros
que se iam

E sumiam.

domingo, 24 de outubro de 2010

Preciso

Preciso do seu carinho torpe
que me rasga a carne
do coração

Preciso da nossa nudez santa
e da nossa fome branca
de ideologias

Preciso do seu amor quente
e da intranquilidade crua
de um seu olhar

sobre um meu corpo
nu e oferecido inteiro
ao seu desejo

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sexta-feira

cansaço
desfaço
num passo
o laço
devasso

depois de uma semana loooonga...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

das tentativas de silêncio

por mais que eu me esforce
esse blá blá bla não cessa
se ao menos procurasse
silêncio dos sons lá fora
mas sou eu que não silencio

um dois três
ins tan tes
no va zio
va ci lo

eis que surge
imperioso
o pensamento
se só som sou

suplício só aceito
acolho o som do sofrimento

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tudo coexiste

Tudo já é verdade, portanto, tudo coexiste desobstruidamente. Por exemplo, aqui está o espaço. As nuvens estão constantemente indo e vindo. Vem a chuva, vai-se a chuva. Trovoadas vem e vão. O vento vem e vai, vem e vai, vem e vai. As tempestades aparecem e desaparecem a toda hora. Embora todas essas coisas venham e passem incessantemente no espaço, ele mesmo não é, em absoluto, afetado por elas, porque espaço é completa vacuidade. Nuvem, chuva, vento, sol, noite, dia, não obstruem uns aos outros. Sua mente é exatamente assim. Se você praticar meditação com muita determinação, conseguirá compreender integralmente a vacuidade fundamental deste universo. Assim, quando os sentimentos vierem e se forem, e os pensamentos vierem e se forem, e situações boas vierem e se forem, e as situações ruins aparecerem e desaparecerem, nada pode obstruir você absolutamente. Tudo é vazio! Quando a felicidade aparecer, você pode usá-la pelos demais seres. Quando o sofrimento aparecer, você pode usá-lo para ajudar outros seres. Você pode usar situações boas e ruins, experiências boas e más, apenas para ajudar todos os seres a saírem do sofrimento, pois todas essas "coisas" são completamente vazias, e essa vacuidade é a nossa natureza compassiva natural.
Você sabe, por experiência própria, que quando gruda algo em sua mente, você sempre acaba sofrendo. Mas, se você não guardar qualquer coisa vazia que aparece e desaparece na sua mente, então nenhum sentimento, nenhum pensamento, nenhuma situação, nenhum problema conseguirá tocá-lo.  Seu pensamento é verdade. Sua felicidade é verdade; sua tristeza é verdade. Uma situação ruim é verdade. Uma boa situação na sua vida é também verdade. Tudo é a mesma vacuidade e, portanto, tudo é verdade, exatamente assim como é. O que não é verdade? Você conseguiria achar outra coisa? Por favor, mestre-a para mim!
(Mestre Zen Seung Sahn. A bússola do Zen. Bodigaya)

copiei daqui

E se Deus fosse um de nós?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Pensamento desconjuntado

Toda vez que me enganam é como se o chão se abrisse para me engolir.
Toda vez é sempre a mesma história.
Sempre e sempre
não queriam me enganar.
E por que me enganam?
Porque sempre e sempre confio.
Acredito na bondade alheia.
Acredito.
E porque acredito me passam a perna.
Me passam a perna.
Me enganam toda vez e eu continuo
acreditando.
Maldita a minha fé na bondade alheia.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Guardei dentro do olhar

guardei dentro do olhar
o risco do cisco
e o sabor lento
do beijo
dos seus olhos
nos meus

domingo, 3 de outubro de 2010

Desejo


 seus olhos mirando nos meus, semicerrados
 a sua voz soando nos meus ouvidos, delícia
 sua boca em mim, por todos os cantos me sugando a vida
 suas mãos que me escrevem caminhos, me procuram, me encontram
 sua pele ora macia, ora firme, com gosto de sabonete
 o ritmo do seu quadril na cadência dos seus gemidos
 seus pelos sob os meus dedos
você debaixo dos beijos dos meus seios
e dentro de mim
cada vez mais
só desejo

sábado, 2 de outubro de 2010

Lembro-me


Lembro-me de gotículas de suor a brilhar no meu corpo
E elas não eram minhas.
Lembro-me do teu corpo suave a deixar o meu
E eu ainda tremia no depois.
Lembro-me do teu abraço e dos teus dentes
Tão rentes que faziam parte da minha pele.
Lembro-me do teu sorriso de menino levado
Dos teus passos ternos na minha direção.
Lembro-me de uma lufada de vento azul
A me percorrer e me envolver e me arrastar.
Lembro-me de lábios quentes e língua doce
Sabor de pêssego.
Lembro-me
Teus olhos nus a revelar pensamentos devassos
Tuas palavras sem medida e teu carinho tosco
Teu amor cheio de urgência e calor

Lembro-me
Não há como esquecer.