Algumas semanas atrás, passei
numa farmácia para comprar tinta de cabelo. Fazia meses que não
pintava o meu cabelo e, além da cobrança alheia, também comecei a
me incomodar com a idade avançando e as marcas dela aparecendo nos
meus fios de cabelo. (Mas, afinal, qual é o problema de
envelhecer?). Como se não bastasse esse objetivo ao entrar na
farmácia, encontrei uma balança no meio da loja. Foi aí que eu me
perdi de mim… Pesei pela primeira vez nesse ano inteiro. Tinha até
esquecido de pesar, mas, no meio de tantos afazeres, saber exatamente
o meu peso não estava na minha lista. Sabia que tinha engordado um
cadinho olhando as calças se apertando no meu quadril, mas nem
estava assim preocupada.
E
o que aconteceu? Pesei. E estava dois – isso mesmo, DOIS – quilos
mais gorda!
Adivinha
qual a sensação da pessoa aqui? Ali com a sacolinha com tinta para
cobrir os branquinhos e com esses dois quilos a mais presentes no
corpo, me senti velha, V-E-L-H-A, e gorda, G-O-R-D-A. Voltei meio
chocada para casa e me lembrei duma frase da Mary del Priore:
“Diferentemente de nossas avós, não nós preocupamos mais em
salvar a nossa alma, mas sim o nosso corpo da rejeição social.”
E, cá estava eu, sendo mulher, apavorada pela passagem do tempo,
temendo me transformar no horror dos horrores: uma mulher velha e
gorda. E por que essa mulher é assim tão monstruosa? Porque o
padrão de beleza, a mulher vendida pela mídia, é jovem, é magra e
linda. É um objeto de desejo. Um objeto. Vamos marcar bem essa
palavra: objeto.
Nosso
corpo é um objeto? Podemos ser objetos do desejo do outro, sem
dúvida. Enquanto ideia e enquanto matéria, somos sempre modelados
pelo olhar alheio. É o olhar do outro que nos dá os nossos limites
de pessoa. O olhar do outro é nosso espelho, onde nos olhamos para
nos entender. Mas por que, de repente, só um modelo de objeto é
desejado e não todos os outros? Por que essa delimitação tão
cruel de um único tipo de cabelo, de peso, de altura? Se nós todos
somos diferentes, se o modelo é um negócio quase impossível de
alcançar… Quando a gente vê esses padrões que nos vendem de
mulher jovem, bonita e magra, também se vê seios fartos e quadril
largo, para lembrar que as mulheres também são mães. O padrão tem
a ver com a possibilidade de parir filhos bonitos e saudáveis. Ter
seios fartos e quadril largo e ser magra… troço paradoxal, não é
mesmo? Mas vai que existe. Os anos passam, você continua magra,
seios fartos e quadril largo, e, começa a envelhecer… Ferrou!
Acabou a beleza, porque corpos velhos, na nossa sociedade, não são
considerados bonitos.
Não
tem jeito. Uma vida de sacrifícios, para acabar em velhice e morte…
Mas qual é mesmo o objetivo dessa vida? Se o objetivo for atender
plenamente aos padrões de como ser desejável para os outros, não
seremos felizes. Sempre haverá, mesmo depois do rígido controle do
físico nas academias e centros estéticos, mesmo comendo como um
passarinho e ignorando as guloseimas das festas infantis, um dia ela
chegará: a idade. E você verá o seu corpo ser rejeitado pelo
outro. E você verá a sua pessoa ser desconsiderada pela sociedade.
Que
fazer então? Não sei. Por enquanto, estou lindamente tentando uma
rigidez assombrosa com o meu corpo. O culto doentio ao corpo faz
parte do nosso cotidiano e se resolvo aqui dizer que estou acima
disso, estaria mentindo solenemente. Procurei alguns profissionais
recentemente: personal trainer, nutricionista, esteticista. Talvez
venha a buscar outros profissionais em breve. Mas a minha
consideração agora é: para quê essa loucura? A idade virá e todo
o sacrifício e dinheiro investido em corpo se mostrará ineficiente.
Mas…
eu tenho uma fórmula para resolver essa questão. E ela se resume em
me preocupar sim com o corpo, afinal preciso dele saudável pra ser
feliz e bonito pra ser aceita na sociedade (que Deus nos ajude com a
sua imensa bondade e nos livre de tamanha praga em breve!), porém
não é o meu único foco da vida. A vida é muito mais que isso,
certo?
Eu
leio bons livros, estudo, ouço música (gente, tanta música boa!),
assisto séries (ou quase, porque nunca termino nenhuma…), filmes
(faço esforço)… Faço a minha parte como cidadã. Me informo
sobre o que acontece no mundo. Trabalho com afinco. Me esforço para
ser amiga dos meus amigos, boa filha, boa irmã, boa tia… Dedico um
tempo para a meditação e para o autoconhecimento. Cuido da minha
casa, das minhas plantinhas, das minhas cachorras. Quero sempre
parecer simpática para os outros, não para ser querida e popular,
mas para não piorar o dia de ninguém. A gente não sabe o que os
outros estão passando, né? Ser gentil não custa nada.
Finalizando
o que parece não ter fim… Não, não dá para fugir do nosso tempo
e ele é marcado pelo culto ao corpo e pela idolatria à juventude.
Vamos sempre estar correndo atrás de aceitação social e, por isso,
em busca do corpo perfeito (aquele que é impossível). Contudo,
cuidamos de nós bem melhor se o corpo não for o nosso único foco,
afinal temos mente, espírito, sentimentos… Precisamos de envolver
a nossa totalidade na busca da nossa felicidade.