Onde nasce o poema?
Onde?
Será que nasce nesses pés
sempre escondidos com medo do pó?
Ou será o poema fruto desses joelhos
marcados por cicatrizes que o brincar deixa?
Será nas coxas que se forma o poema
ou entre elas?
Não será o poema gerado como se gera a vida:
no meio das pernas?
Nessa flor que freme e mela de amor?
É aí que ele nasce?
Ou será o poema descendente do umbigo
que já foi nosso centro?
Ou será que é formado nos seios
sempre oferecidos à boca do ser amado?
Nasce o poema na garganta
como um grito iluminado?
Ou nasce nas costas serpenteando a coluna?
Nas nádegas talvez? Onde nascerá o poema?
Nos ouvidos, nos lábios, nos dentes?
Ou no nariz que espirra doente?
Será que escorre pelos cabelos como gotas de chuva?
Não, não
O poema nasce por detrás dos olhos
Não desses olhos que olham para fora
e veem o dia com sol e céu azul
ou veem a noite com lua e estrelas
O poema nasce quando a vista embaça
E sem outro alento
A gente olha por dentro
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