Um momento de silêncio pela noite afora. Ela não dorme nunca. Deitada de bruços espera o sono que não vem. Ninguém sabe desta insônia. Desta falta de esperança de sonhos. Não sonhar é primordial, porque são os sonhos que nos atrapalham a vida.
Suspiros e gemidos no quarto ao lado não incomodam. Ao lado sempre é mais feliz do que aqui. Aqui a solidão é que atrapalha o sono. Ao lado os acompanhados se amam como gatos: aos berros. Deixa-os com seus ruídos e mergulha dentro de si. Nesse vazio em si. Nesse oco que a corrói.
O vazio dentro do quarto cresce em ondas. Marulhos, barulhos, ondas quebrando na praia. Um mar atormentado que cresce em olhos que não são seus. A tormenta passará, pensa, logo amanhece de novo e o mar se afasta. Com a maré mais baixa e a agitação do dia, as ondas do vazio se acalmam.
E a calmaria reina nos olhos dela o dia todo, até o fim. Até o início de tudo que não existe e não acontece no mar.
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