Cansei de comer cadáver, como agora só coisas vivas. Dilacero a carne verde dos vegetais, e me contento em dar essa prova de amor ao universo: sim, eu amo a vida e detesto a morte com todas as minhas forças.
Cansei de administrar essa tristeza horrenda que me persegue a vida inteira. Darei um fim a esta choradeira que me acomete dia sim e dia não. Tristeza nenhuma vai me deixar de cama de novo, nem vão brotar mais estas flores negras que eu arranco neste momento do meu rosto cansado.
Cansei dessa miséria clássica de sentimentos, não vou mais represar esse rio que escorre da ferida aberta no meu peito. Que jorrem essas águas imundas do meu coração que devia ser puro! Jorrem águas fétidas do meu centro e poluam o mundo com tudo o que não devia ser e é.
Cansei de ser colocada de lado sempre que desnecessária. Pois se lembram de mim só em caso de precisão? Certitude que não me terão mais a mão. Estarei sendo desnecessária em outra região.
Cansei de ser: meu lema a partir de hoje é ter. E terei que não ser tão medíocre nas minhas ideias, e inventar novos caminhos para seguir tendo e não sendo. Terei de ter o que não preciso e serei de fato o que necessito.
Cansei de tudo, quero o nada para sempre inútil e imutável.
Cansei de tanto desejar bonança. Quero só a merda, para sempre a merda desejar e, por isso, toda a merda que obtiver será minha gloriosa e inexorável merda existencial.
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