domingo, 30 de agosto de 2009

Loki

Escuta esse
silêncio:

...


Ele fala mais
do que as bocas
calam

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Futuras palavras

Bem dentro de mim
um feto estranho
se movimenta.
Aqui no meu ventre
intumescido
palavras futuras
estão guardadas.
Eu, que fui um dia
fecundada por
uma ideia de amor,
agora espero
uma criatura
já rejeitada.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ora pro nobis

hoje devota
amanhã devassa
ou
hoje devassa
amanhã devota?

Santa Maria Egipcíaca
protetora das
mulheres perdidas
mulheres apenas
mulheres mulheres
devotas ou não
devassas ou não

ora pro nobis

sábado, 22 de agosto de 2009

vida
CHEIA

eu
CHEIA

dessa
VIDA

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O invasor

Chegou sem cerimônia e entrou
No quarto desfez a mala
Escolheu bem o ângulo e sentou
Na melhor poltrona da sala

Invadiu-me o corpo desdenhoso
Apossou-se de um meu seio
Penetrou-me a alma furioso
E preencheu súbito o vazio

Tão confiante estava
Que não perguntou
Se incomodava

Tão confiante estava
Que nem percebeu
Se eu chorava

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Poema Pancada

Esse poema
é meio
pancada

Não quer
nem diz
nada

domingo, 16 de agosto de 2009

Chacal é o cara:

"... e tirem a gravata e o salto alto pra escrever"

Chacal

A (dev)oração furiosa do amor

A (dev)oração
furiosa do amor

Penetrou-me
sem dó
a carne
palpitante

do coração

Era manhã

Era manhã
e ele estava
muito feliz

Quando pulou
pela primeira vez
do décimo
andar

Quero morrer

Quero morrer
só hoje

Amanhã é
outro dia

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Onde nasce o poema?

Onde nasce o poema?
Onde?
Será que nasce nesses pés
sempre escondidos com medo do pó?
Ou será o poema fruto desses joelhos
marcados por cicatrizes que o brincar deixa?
Será nas coxas que se forma o poema
ou entre elas?
Não será o poema gerado como se gera a vida:
no meio das pernas?
Nessa flor que freme e mela de amor?
É aí que ele nasce?
Ou será o poema descendente do umbigo
que já foi nosso centro?
Ou será que é formado nos seios
sempre oferecidos à boca do ser amado?
Nasce o poema na garganta
como um grito iluminado?
Ou nasce nas costas serpenteando a coluna?
Nas nádegas talvez? Onde nascerá o poema?
Nos ouvidos, nos lábios, nos dentes?
Ou no nariz que espirra doente?
Será que escorre pelos cabelos como gotas de chuva?

Não, não

O poema nasce por detrás dos olhos
Não desses olhos que olham para fora
e veem o dia com sol e céu azul
ou veem a noite com lua e estrelas

O poema nasce quando a vista embaça
E sem outro alento
A gente olha por dentro

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

... porque sinto saudade

Para Irene

Há muito, muito tempo
ela estava na cama
deitada

Há muito, muito tempo
o olhar dela dizia
nada

Foi há milênios ou foi ontem
que ela morria líquida
desmanchada?

Foi há milênios ou foi ontem
que ela se foi e está
em mim fechada?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Poema meu

Como te quero
deitado insone
ao meu lado

Como te quero
nu em pelo
e desavergonhado

Como te quero
teso e devasso
em mim atravessado

Como te quero
a minha língua
na tua carne sonora

Como te quero
escorrendo de mim
e por mim até a aurora

domingo, 9 de agosto de 2009

Sobre o amor IV

Eu vivo
morrendo
de amor
por
ti

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Sobre o amor III

- Isso dói!
- Humm? Que foi?
- Seu amor está doendo dentro de mim.
- Ah! É assim mesmo...
- Vai doer sempre?
- Não.
- E por que está doendo agora?
- Porque ele existe.
- ...
- Compreende?
- ...
- Se não existisse não doeria.
- ...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Como um serial killer

hoje
eu
mato
os
sonhos
de
ontem

sábado, 1 de agosto de 2009

Tarde

Tarde luminosa
As flores florescem
Pétalas mudas
Lentas se abrem

Tarde vagarosa
As horas não passam
Relógios surdos
Ponteiros desandam

Tarde luminosa
Flores delicadas
Horas impuras
Fluem lentamente

Tarde vagarosa
Por que envelhecem
as horas nuas
por corações distantes?

Tarde luminosa
Por que murcham
as flores nuas
por corações distantes?