Lava
minhas memórias
Lava
minhas prisões
Lava
minhas tristezas
Lava-me
com a ponta de sua língua
Um vazio profundo, portanto, se estiver procurando algo, pule para o próximo blog.
sábado, 30 de maio de 2009
terça-feira, 26 de maio de 2009
Na vida os sentidos se multiplicam
Na página os sentidos se esforçam
E forçam para não serem
Mas são
Múltiplos
Infinitos
Desejos
De vida
De morte
E morte
Morte que não se quer mas se impõe
Cada vez mais insistente nos rodeia
E nos queima de desejo a falta que faz a vida
Poesia que inexiste e dói
E fere
E corta
E recorta
E sangra
Em muitos sentidos que entrecortam
Que cortam as falhas de cabelo
As falhas de dentes
As falhas de motivo
As falhas de memória
Que queimam com ódio
Nesse inferno que é a vida
Desejando a morte
* Arte: Delaroche
domingo, 24 de maio de 2009
As naus e a reconstrução da imagem nacional de Portugal
A narrativa de Lobo Antunes não é fácil de ler, pelo contrário. Não podemos dizer que o autor privilegia a forma em detrimento ao conteúdo, mas acreditamos que o trabalho com ambos os lados do texto é feito com muito vigor. Neste romance em especial pudemos perceber todo o talento literário do autor que, com o auxílio da paródia, nos apresenta a história de Portugal através de seus grandes heróis. Tratando principalmente daqueles heróis das navegações os quais fizeram de seu país um grande império séculos atrás, por isso o título sugestivo do romance: As naus.
O caráter parodístico da narrativa se dá na forma como são tratados esses heróis, rebaixados no romance, apesar dos seus grandes feitos e do nome conhecido dos livros de história, em pessoas comuns e, ironicamente, vivendo todos numa Lisboa atualíssima. Os grandes nomes da história portuguesa perdem a sua nobreza e são colocados diante de uma Lisboa feia e prostituída num momento pós-colonial no qual foram obrigados a voltar das colônias africanas. De volta à terra natal, sem recursos e sem riqueza, a fama valendo apenas como um jeito de as pessoas se divertirem com eles, personagens famosos, entre os quais, Pedro Álvares Cabral, Diogo Cão, Luiz Vaz de Camões, se encontram na mais absoluta miséria. Sendo que um vive da prostituição da esposa mulata, outro é alcoólatra, e o terceiro praticamente um mendigo.
A idéia que percorre todo o romance é a de dessacralizar as figuras que fizeram a história do Portugal Império, o qual, logo após a independência de suas colônias deixou de ser o mesmo e passou a se procurar novamente. Discutir o que virá a ser esse país que não é mais o que pensava ser e que precisa de novos contornos e talvez de heróis menos pomposos que os corajosos navegadores, aqui caracterizados como marinheiros desempregados, porque a nação não precisa mais deles. Como as altas figuras não são mais necessárias acabam por ser rebaixadas a escória social e nivelados como seres marginais, que vivem na periferia da cidade de Lisboa, de cabaré em cabaré. Segundo Álvaro Cardoso Gomes, os romancistas portugueses “estabelecem um diálogo entre passado e presente, com o objetivo de exorcizar a lembrança, altamente idealizada, de um império colonial português” (GOMES, 2005, p.350). No caso de As naus, o passado é presentificado em seus personagens históricos que se apresentam como seres degradados caminhando no presente de maneira concomitante.
A imagem mais clara desse Portugal degradado é a do pai morto que Camões carrega e não sabe o que fazer dele. O pai é sem dúvida o país que acabou de morrer, porque já não há mais império. Assim como aparece inútil sua tentativa de escrever a sua famosa epopéia diante de uma realidade tão infeliz a que o país chegou num futuro que não era desejado e nem passível de ser louvado. Se como diz Eduardo Lourenço, “Portugal existe porque existiu e existiu porque Camões o salvarguadou na sua memória como a dos Hebreus se perpetua na Bíblia” (LOURENÇO, 1999, p. 108), nessa nova epopéia que As naus pretende se tornar, acontece o contrário: todo o passado se torna desprezível e por isso risível. Pareceu-nos que a angústia desse novo país que está surgindo depois de uma séria crise de identidade é de não ser unicamente um país de passado louvável. A idéia que perpassa o texto é: vamos rir desse passado, vamos torná-lo menos pesado. Talvez seja desejo até deixar de dar importância a esse passado volumoso e trazer os olhares portugueses para o presente, pois é com o presente que se faz o futuro. Daí a “presença” desses heróis antigos de maneira concomitante no mesmo e degradado presente.
Fazer surgir uma nação que não se baseia exclusivamente em passados heróicos, mas que se delineia diante de uma Europa a qual não se assemelha parece difícil. Tanto que os portugueses representados por um bando de tuberculosos ainda esperam, ao final da narrativa, por uma salvação vinda de uma figura mítica que assombra a todo o momento as personagens: D. Sebastião. Este é esperado diante do mar ao amanhecer de uma nova era, e como se sabe, provavelmente, nunca virá. E os tuberculosos terão de se conformar com o que tem e curar-se com os seus próprios recursos. O amanhecer em si reflete uma esperança no futuro, mas esse futuro não pode mais vir de fora, pois não existem mais colônias, os portugueses precisam agora contentar-se com os seus recursos interiores, e sem depender de um passado mítico.
O Portugal acostumado a ser um país de dimensões continentais e vincular a sua imagem às colônias africanas e ao Brasil, agora precisa se acostumar com seus próprios limites e conformar-se a ser um país “que deu a volta ao mundo para tomar medida de sua maravilhosa imperfeição” (LOURENÇO, 1999, p. 152).
O caráter parodístico da narrativa se dá na forma como são tratados esses heróis, rebaixados no romance, apesar dos seus grandes feitos e do nome conhecido dos livros de história, em pessoas comuns e, ironicamente, vivendo todos numa Lisboa atualíssima. Os grandes nomes da história portuguesa perdem a sua nobreza e são colocados diante de uma Lisboa feia e prostituída num momento pós-colonial no qual foram obrigados a voltar das colônias africanas. De volta à terra natal, sem recursos e sem riqueza, a fama valendo apenas como um jeito de as pessoas se divertirem com eles, personagens famosos, entre os quais, Pedro Álvares Cabral, Diogo Cão, Luiz Vaz de Camões, se encontram na mais absoluta miséria. Sendo que um vive da prostituição da esposa mulata, outro é alcoólatra, e o terceiro praticamente um mendigo.
A idéia que percorre todo o romance é a de dessacralizar as figuras que fizeram a história do Portugal Império, o qual, logo após a independência de suas colônias deixou de ser o mesmo e passou a se procurar novamente. Discutir o que virá a ser esse país que não é mais o que pensava ser e que precisa de novos contornos e talvez de heróis menos pomposos que os corajosos navegadores, aqui caracterizados como marinheiros desempregados, porque a nação não precisa mais deles. Como as altas figuras não são mais necessárias acabam por ser rebaixadas a escória social e nivelados como seres marginais, que vivem na periferia da cidade de Lisboa, de cabaré em cabaré. Segundo Álvaro Cardoso Gomes, os romancistas portugueses “estabelecem um diálogo entre passado e presente, com o objetivo de exorcizar a lembrança, altamente idealizada, de um império colonial português” (GOMES, 2005, p.350). No caso de As naus, o passado é presentificado em seus personagens históricos que se apresentam como seres degradados caminhando no presente de maneira concomitante.
A imagem mais clara desse Portugal degradado é a do pai morto que Camões carrega e não sabe o que fazer dele. O pai é sem dúvida o país que acabou de morrer, porque já não há mais império. Assim como aparece inútil sua tentativa de escrever a sua famosa epopéia diante de uma realidade tão infeliz a que o país chegou num futuro que não era desejado e nem passível de ser louvado. Se como diz Eduardo Lourenço, “Portugal existe porque existiu e existiu porque Camões o salvarguadou na sua memória como a dos Hebreus se perpetua na Bíblia” (LOURENÇO, 1999, p. 108), nessa nova epopéia que As naus pretende se tornar, acontece o contrário: todo o passado se torna desprezível e por isso risível. Pareceu-nos que a angústia desse novo país que está surgindo depois de uma séria crise de identidade é de não ser unicamente um país de passado louvável. A idéia que perpassa o texto é: vamos rir desse passado, vamos torná-lo menos pesado. Talvez seja desejo até deixar de dar importância a esse passado volumoso e trazer os olhares portugueses para o presente, pois é com o presente que se faz o futuro. Daí a “presença” desses heróis antigos de maneira concomitante no mesmo e degradado presente.
Fazer surgir uma nação que não se baseia exclusivamente em passados heróicos, mas que se delineia diante de uma Europa a qual não se assemelha parece difícil. Tanto que os portugueses representados por um bando de tuberculosos ainda esperam, ao final da narrativa, por uma salvação vinda de uma figura mítica que assombra a todo o momento as personagens: D. Sebastião. Este é esperado diante do mar ao amanhecer de uma nova era, e como se sabe, provavelmente, nunca virá. E os tuberculosos terão de se conformar com o que tem e curar-se com os seus próprios recursos. O amanhecer em si reflete uma esperança no futuro, mas esse futuro não pode mais vir de fora, pois não existem mais colônias, os portugueses precisam agora contentar-se com os seus recursos interiores, e sem depender de um passado mítico.
O Portugal acostumado a ser um país de dimensões continentais e vincular a sua imagem às colônias africanas e ao Brasil, agora precisa se acostumar com seus próprios limites e conformar-se a ser um país “que deu a volta ao mundo para tomar medida de sua maravilhosa imperfeição” (LOURENÇO, 1999, p. 152).
sábado, 16 de maio de 2009
quarta-feira, 13 de maio de 2009
O obscuro
Tudo tem um começo. Comigo não poderia ser diferente. Acontece que eu sempre escolhi os caminhos mais bonitos. Nunca escolhi o trajeto da minha vida pela menor distância, ou pela facilidade, ao contrário. Mais difíceis, mais longos, porém sempre belos.
Foi assim que um dia entrei por uma avenida de três pistas. No meio desta ia minha bicicleta. E pedalando eu olhava para o alto. O sol filtrado pelas folhas das árvores que se entremeavam galhos de uma com os galhos da vizinha ao lado e com os da vizinha da frente. Lá no alto o céu se deixava entrever, contraste entre o azul celeste, o verde das folhas e o vermelho das flores.
E ia a bicicleta sozinha a zanzar por esta sombra, o meu pulmão aspirava o perfume doce das flores, minha cabeça percorria outras veredas muito mais distantes do que o meu real objetivo. Foi quando no horizonte delineou-se uma figura escura. Meus olhos se esforçaram para me dizer se aquilo era humano, ou animal, ou ainda se não era de nenhum ser vivente.
A princípio, a curiosidade grande não me permitiu temer o novo. Aquilo que se assomava a minha frente não me metia medo, apenas me atraia como a cobra atrai a presa antes do bote definitivo e letal. Mas, à medida que eu me aproximava, o ritmo das minhas pedaladas diminuía e, mais lentas, as minhas pernas pareciam mais espertas do que a minha cabeça.
Aquilo de fato não era gente. Era uma criatura estranha e negra, que amontoada como estava, não parecia ser humano. Quando parei ao lado e olhei do alto da minha curiosidade, resmungou: Vem aqui, menina! Assustei-me: Isso fala! A criatura me olhou como se tivesse olhos, do fundo da escuridão que parecia um rosto. Tive medo e já ia me afastando, mas um tentáculo que parecia braço me derrubou da bicicleta. Cai como se o meu corpo pesasse toneladas, um estrondo marcou minha chegada ao chão.
- Mas por que você fez isso? – retruquei em meio a caretas de dor.
- Pra você me entender, precisamos estar no mesmo nível – respondeu meu interlocutor, com uma boca indecifrável.
Eu olhei de novo para a face obscura, mas não pude olhar por muito tempo, a escuridão era mais difícil de contemplar que a luz do sol.
- Eu não entendo... comecei, mas a coisa se movimentou como se me pedisse silêncio.
- Pra entender não é preciso falar, nem perguntar, apenas ouça.
Meu medo era palpável, o coração queria pular do peito para a garganta que doía e a qualquer momento poderia explodir em gritos incontroláveis. Porém, a curiosidade é maior do que tudo. Eu me preparei para escutar, com toda atenção, o que o ser que não era humano queria me dizer.
- Eu sou um anjo, declarou sem rodeios.
- Você não parece um anjo, disse. Lembrei de todas as figuras angelicais que já tinha visto na vida e que em nada se pareciam com o ser escuro a minha frente.
- Mas é o que eu sou, embora sua visão não possa decifrar todas as informações que minha figura possui.
Não podia estar diante de um anjo e sentir tanto pavor. Devia ser um anjo caído, um demônio, um como Lúcifer que na ausência divina perde a aura de bondade e...
- Não fui expulso do céu, estou aqui porque Deus não existe mais, disse sem rodeios.
- Mentira.
- Não esperava que você acreditasse, mas esta é toda a verdade. A mais de dois mil anos atrás, quando Deus andava na terra e viu todas as coisas que fez, decepcionou-se imensamente com os seres humanos. Desde então teve desgosto atrás de desgosto e então desistiu de ser. Um dia estilhaçou-se no ar.
- Não pode ser! Você mente para me por medo.
- Não tenho motivos para isso. Eu só quero que você também saiba. Na verdade, sou o mensageiro das boas e das más novas. Tenho dito a alguns poucos escolhidos aleatoriamente que não há mais esperança. Até Deus desistiu.
- Mas o que vai ser de nós!
- Não sei. Os anjos estão desaparecendo, o céu ruiu, não há mais nada para ser feito.
- Então estamos jogados a nossa própria sorte?
- Sim, de fato, como sempre estiveram.
- O que você quer dizer com isto?
Alguém tocou no meu braço por trás, Você está bem? era uma voz de mulher me chamando.
- Hein, como? Perguntei como se acordasse de um sono profundo.
- Eu vi quando você caiu da bicicleta. Olha o tamanho do buraco que te desequilibrou – disse a senhora com estrema bondade.
Olhei para o lado do anjo. Ele já não estava mais lá. Levantei, agradeci a mulher que me ajudou. Ela me olhava penalizada e com um meio sorriso de extrema bondade. Eu estou bem, garanti. Sai olhando para o céu. Não é possível que não exista mais esperança...
*Foto: Maria Helena Ribeiro
domingo, 10 de maio de 2009
Sobre o amor
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Ausência - Carta de Amelie a Oswaldo
Você me deixou e eu não vivo mais. Você me deixou e eu não sei por que o ar insiste em entrar no meu corpo. Não sei por que estou aqui nesse mundo terrível. Eu ando por aí sem saber como. A comida perdeu o sabor, a luz perdeu todo o brilho, o sol está diferente, as cores desbotaram, tudo está pesado e feio. Os amigos estão rindo a minha volta e eu com eles rio sem saber de quê. Talvez eu esteja rindo da minha dor absurda. Tudo o que eu consigo pensar é que você não me quer mais. O sofrimento é horrível. Sonho à noite com a sua volta. Acordo sorrindo para notar que não há mais ninguém ao meu lado.
Você disse que eu era sua querida. Você disse que eu era bela. Você disse que eu era livre. Me fez acreditar que eu era incrível. Me fez pensar que eu era importante. E agora não me quer mais. Você me ignora, me vira as costas, me abandona. Eu odeio tudo o que você fez comigo. Primeiro você me seduziu, me conquistou, me encheu de sonhos, me perturbou. Antes eu era só eu, não tinha amor, mas também não tinha problemas. Antes não havia barulho dentro de mim.
Aí apareceu você. Preencheu os meus pensamentos, encheu cada milímetro do meu coração. Os meus dias passaram a ser rodeados em torno do momento em que nós estávamos juntos. E como era bom estar junto com você. A vida não parecia mais tão sem sentido. Nem tudo era cinza, pelos seus olhos eu comecei a enxergar o rosa, o azul, o amarelo, o vermelho... era paixão, era amizade e seria amor. Seria amor se você não tivesse ido embora. Se você não tivesse me deixado. Eu odeio tudo o que você fez comigo. Seria amor se não fosse ódio. Seria amor se não fosse ódio.
Eu odeio tudo o que você fez comigo. Você me enganou, me estragou, me largou. De novo eu sou a largada, a deixada de lado, a solitária. Uma pária. Tenho vontade de correr na rua gritando o seu nome para os muros, exibindo o meu sofrimento. Gritar, berrar, dizer impropérios na frente da sua casa. Quero mostrar meu choro para todos. Quero que todos tenham pena de mim. Quero que as pessoas me olhem como se eu fosse vítima e você algoz. Quero que você seja crucificado em praça pública. Para que todos saibam o que você é de verdade. Para que todos saibam que você me negou a coisa mais básica que alguém pode dar a outra pessoa: amor. Você me negou seu amor. Você me negou uma palavra de carinho. Você me negou sua presença.
A dor é tão imensa que está difícil respirar. O ar arde na passagem obstruída pelos meus soluços. Eu mal posso acreditar que você teve coragem de dizer: eu não te amo mais. “Eu não te amo mais” é horrível. “Eu não te amo mais” é cruel. “Eu não te amo mais” é injusto. Quando o amor acaba deveria ser para os dois lados do casal. Como foi que o amor acabou assim só do seu lado? Eu não entendo nem quero entender. Eu não aceito nem quero aceitar. Eu só quero fechar os olhos e morrer. Morrer. Morrer. Quero morrer. Mas eu já estou morta. Morreu em mim aquela que sorria. Morreu em mim aquela que tinha vontade. Morreu em mim o desejo de ser. Morreu em mim o desejo de ter. Estou morta. Estou morta e foi você que me matou.
Você matou em mim o que havia de melhor, você matou em mim a alegria, você matou em mim a capacidade de amar. Eu não consigo respirar. Estou sem ar. Era você o ar que eu respirava. Era você que coloria minha vida. Minha vida era cinza até você chegar. Conheci as cores por seu intermédio, e agora? Como eu vou viver sem as suas cores. Como? Minha vida agora sem você nem é vida, é morte. Morreu tudo que havia de bom sentimento. Morreram todos os meus planos para o futuro. Não existe mais futuro. Meu futuro era você, era nosso amor, era nossa vida juntos. Não vamos mais ficar juntos. Não vou mais viver, não vou mais ficar entre os vivos.
Não quero mais fingir que está tudo bem. Nada está bem. Desde que você desapareceu. A sua ausência me pesa mais do que qualquer dor que eu já tive. E as dores não foram poucas. Às vezes eu penso: por que deus me fez? Se era só para sofrer, se era para não ter nenhuma alegria nesta vida, se era só para chorar, para quê? Se era para eu provar ao mundo o quanto a vida é triste, e que ainda se pode viver mesmo sem ter nenhuma alegria neste mundo, foi só por crueldade então que eu nasci. Será que deus é cruel? Deus porque me abandonaste? Se sabias que eu era fraca? Eu sou só um ser humano. Eu não agüento ser sacrificada uma vez por ano. Eu não mereço isso. Eu tentei ser uma boa filha, eu tentei ser caridosa, eu tentei ser o melhor que podia. E mesmo assim eu recebo o castigo anual. Castigo! Será só isso que eu recebo em troca de toda a minha boa vontade, de toda a minha vontade de ser boa?
Eu serei má agora. Eu cometerei o pecado dos pecados. Talvez deus não exista. Talvez ninguém se importe. Talvez ninguém nem note o que eu vou fazer. Eu estou prestes a cometer o maior atentado contra a vida que posso imaginar. Inventei o pecado dos pecados. Criei a pior coisa que alguém poderia pensar. E tudo isso foi a sua ausência que me revelou. E tudo isso acontecerá porque você não está aqui para me impedir. Voarei de encontro ao sol. Todo o calor do sol me espera. Queimarei na brasa eterna do céu infernal.
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