segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Os mortos

Morrer faz parte da vida,
todo mundo que nasce um dia morre,
ou, muitas vezes, morre antes de nascer,
então, faz parte do problema de viver,
um dia não mais viver, morrer.

Na maior parte do tempo corremos da morte,
vamos ao médico sempre que adoecemos,
tomamos remédio, usamos óculos, passamos creme,
protetor solar, nos alimentamos com cuidado, fazemos exercício,
cuidamos do corpo e do espírito, trabalhamos, descansamos,
tudo para manter a boa saúde e viver mais e melhor.

Mas o fato é que nada disso adianta,
pois um dia chega a dama branca,
com sua foice gelada e nos sorri com dentes perolados,
e, sem outra escolha, nos abandonamos a ela, deixando para trás
toda a família, que tanto amamos, protegemos e conservamos,
também ficam os bens que adquirimos com esforço e suor,
a bela casa, o carro imenso, as roupas de marca, compradas no shopping,
as jóias que usamos tão pouco, com medo dos ladrões.

Nada mais óbvio que a morte, não importa de quê morremos,
O que importa é que esta bela senhora vestida de branco com sua linda e afiada foice,
chega.
Chega sorrindo sempre com seus dentes perolados e não há como fugir desta sina.
Ela está esperando a hora certa, ou incerta, ou talvez nem seja isso,
ela está aqui ao meu lado todo o tempo esperando a sorte ou acaso,
uma doença mais grave que este resfriado, ou um acidente mais ferrado,
ou talvez ela esteja esperando eu me decidir
'corto ou não corto esse pulso direito?'

pois alguns amam mais do que eu essa dama branca,
e morrem mais e melhor do que eu
todos os dias,
às vezes, mais do que nascem,
 morrem...

Mas um dia será O dia, também o meu e dos outros,
não tem tanto drama com dizem, pois afinal, é o final,
aquele que tanto aguardamos no cinema ou no teatro,
quando assistimos um suspense, ou que nos faz saltar as páginas de um livro,
pra saber quem é o bandido e se alguém vai morrer logo, ou se demora ainda,
ou se vai se salvar e o no fim tudo fica bem, se há casamento, e filhos e happy end

Só que na vida real o fim não é agarrar a noiva pelos cabelos e tascar-lhe um profundo beijo,
nem tanto isso, porque este é só o começo, enfim, depois do casamento, e dos filhos, e de tudo o mais que:
Mais que tudo, o fim é quando finalmente se morre,
porque só depois disso é que as pessoas dizem
"esse era um bom sujeito"
ou dizem, "vaso ruim um dia quebra",
mas dizem tudo isso porque era razoável que um dia todos morrem.

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