Não gosto de fim
Nem gosto de começo
Quando emenda o fim com o começo
Então detesto...
Um vazio profundo, portanto, se estiver procurando algo, pule para o próximo blog.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
domingo, 27 de dezembro de 2009
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Natal
Olho as estrelas agora e sei que o brilho deste instante viaja a anos pelo espaço. Talvez algumas delas já não existam mais e apenas são lembranças luzindo em meio ao nada.
Olho a nossa imensa insignificância cruzando o tempo. Somos como sombras vivendo entre o passado e o futuro. Uma fração pequena de segundos nos separa do ontem, do hoje e do amanhã.
Olho para o passado que é irrecuperável. Ele agora é apenas a luz que se apagou e ainda brilha na minha memória. O passado existe, mas é minha imaginação.
Olho para o futuro que se multiplica a minha frente. Muitos são os amanhãs que faíscam no impossível. O futuro é fruto de uma riqueza de variedades e pode ser provocado por quase nada.
Olho para nós e para a impossibilidade que nós somos. Um encontro desencontrado, uma realidade contra todas as outras realidades que podiam ser e não foram.
Olho para nós e para o passado e sei que é impossivel retornar ao momento antes de nós.
Olho para nós e para o futuro e sei que só o possível acontece.
Olho para os pontinhos incertos de luz que somos e para a imensidão do universo que nos cerca.
Olho e vejo que nós não somos nada.
Feliz natal.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Luz
me ilumina
desde o centro
até o dentro
brota na flor
e transborda
até a flor
da pele
me acende
e rescende
à flor
transparece
em rubror
ou calor
desde o centro
até o dentro
brota na flor
e transborda
até a flor
da pele
me acende
e rescende
à flor
transparece
em rubror
ou calor
domingo, 20 de dezembro de 2009
Fonte
Da minha fonte
que é pura
jorram as águas
que são tuas
Águas que escorrem
por entre as frestas
e apenas querem
saciar a sede dos poetas
que é pura
jorram as águas
que são tuas
Águas que escorrem
por entre as frestas
e apenas querem
saciar a sede dos poetas
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Febre
A pele queima
O corpo arde
A alma arrepia
Uma voz ausente
Que me acende
Perturba o sono
Até o sonho
Até o delírio
Até o impossível
O corpo arde
A alma arrepia
Uma voz ausente
Que me acende
Perturba o sono
Até o sonho
Até o delírio
Até o impossível
domingo, 13 de dezembro de 2009
Viola
Por que tu me deixas
tão solitária neste canto
a recordar-me saudosa
do teu suave encanto?
Por que tu me deixas
em abandono jogada
se sabes que meus sons
são das tuas mãos morada?
É com teus dedos ávidos
a percorrer-me as cordas
que arranca-me doces gemidos
por isso te imploro: toca-me.
Pois quando a tristeza aflora
nesta imensidão de silêncio
sem ti, tudo em mim chora,
por isso te imploro: viola-me.
tão solitária neste canto
a recordar-me saudosa
do teu suave encanto?
Por que tu me deixas
em abandono jogada
se sabes que meus sons
são das tuas mãos morada?
É com teus dedos ávidos
a percorrer-me as cordas
que arranca-me doces gemidos
por isso te imploro: toca-me.
Pois quando a tristeza aflora
nesta imensidão de silêncio
sem ti, tudo em mim chora,
por isso te imploro: viola-me.
sábado, 12 de dezembro de 2009
O primeiro passeio
A primeira vez que ela saiu portão afora vinha arrastada pela coleira. Um medo absoluto do que existia de lá da entrada. Medo do mundo. Do lado de dentro podia demonstrar toda a sua valentia e proteger seu pequeno espaço com dentes e ferocidade evidente. Mas do lado de fora só o desconhecido a aguardava. E aquilo que não conhecia era provavelmente perigoso.
Mesmo assim não podia deixar de ouvir os apelos do ser amado que a puxava e insistia: Vem comigo! Ela olhava com estranhamento para aquele ser que devia ampará-la, amá-la e cuidá-la. Por que está fazendo isso comigo? perguntaria se pudesse. Um pequeno sufocamento a impedia de pensar direito, ela estava sendo arrastada rumo a rua, ou seja, rumo a tudo que antes era interdito. Que poderia fazer a não ser ter pavor de tudo isso?
Uma vez do lado de fora, olhou firme para o seu amor, só nele confiava: Serás o meu guia? Seu amor sorria: Pronto, agora que estamos aqui, vamos! E continuou a arrastá-la que atordoada se via obrigada a segui-lo. Onde vamos? poderia ter perguntado. Mas perguntas inutéis não precisam ser formuladas.
O mundo em volta se transformava: a calçada virara asfalto e mais a frente virara grama. Olhava e cheirava o chão com delícia. Arriscava-se a olhar os carros, e cheia de pavor arriscava-se a olhar também as outras pessoas, e as árvores e os postes e as lojas e as crianças correndo e os ônibus e... Mundo caótico cheio de curiosidades ao longo do caminho.
Em pouco tempo já não era mais necessário arrastá-la. Ela corria feliz ao lado e às vezes a frente do ser amado. O que o fazia sempre que necessário puxá-la de volta para o lugar certo. O vento no rosto, o sol quente queimando a pele, o prazer de mover os músculos para frente, a alegria de estar a passeio com seu amor, não importa se vez em quando ele a atraia de volta em redor de si. Estava ilusoriamente livre.
Livre como nunca estivera antes em toda a vida, e, no entanto, presa, como sempre, àquele que a libertava e prendia ao mesmo tempo. Paradoxos que não lhe passavam pela cabeça, já que não se preocupava com isto. Tudo o que queria agora era passear e ser levada não importando onde. Queria apenas sentir esse sol, esse vento, a mão firme de seu amor mantendo-a junto a si e o coração batendo descompassado dentro do peito pelo caminho.
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Línguas
as línguas mortas se atraem e se encontram
e deformam ao toque de vida
e desmontam planos e amontoam sonhos
as línguas tortas os caminhos tortuosos
percorrem promessas voláteis
que escorrem pelo ar cheio
luzes cobertas de som
o multicolorido barulhento
de um mundo que se derrete
sua úmido de calor e dor
as línguas turvas de ideias
desarvoradas porém descrentes
e deformam ao toque de vida
e desmontam planos e amontoam sonhos
as línguas tortas os caminhos tortuosos
percorrem promessas voláteis
que escorrem pelo ar cheio
luzes cobertas de som
o multicolorido barulhento
de um mundo que se derrete
sua úmido de calor e dor
as línguas turvas de ideias
desarvoradas porém descrentes
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
domingo, 6 de dezembro de 2009
Magma
Nem esta manhã fria
Nem esta chuva fina
Nem esta alegria miúda
Impedem esse magma*
que me destrói a calma
*(lava ardente que me lambe e queima lentamente)
Nem esta chuva fina
Nem esta alegria miúda
Impedem esse magma*
que me destrói a calma
*(lava ardente que me lambe e queima lentamente)
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
monstros
Veja bem, não há mais flores no mundo. Todas elas desapareceram para dar lugar a monstros. Sim, são monstros criados em laboratório estas rosas que você vê nas lojas. Sim, são lindas estas rosas, mas nem todos os monstros necessariamente são feios e maus. São monstros porque são criações humanas.
As coisas criadas pela natureza não são monstros, são acidentes. Longos e longos anos de acidentes provocados por acasos genéticos criaram o ser humano que somos. Nós, o maior perigo já criado pelas forças da natureza, somos os criadores de monstros.
Voltemos as rosas. As rosas da natureza eram pequenas e sem graça. poucas cores e um cheiro delicado, perfume para nossos narizes sensíveis e pesquisadores. Olhamos as rosas e as amamos. Rosas são especiais, pensamos.
Rosas servem para oferecer alegria aos nossos olhos e narizes, rosas para oferecer de presente às mulheres que amamos e que parecem com essas rosas: belas e cheirosas, delicadas e traiçoeiras (rosas e mulheres têm espinhos). E rosas viraram nossa obsessão. Rosas vermelhas para os apaixonados, rosas cor-de-rosa para os amorosos, rosas amarelas para os amigos, rosas brancas para pedir perdão, rosas azuis... azuis? Para que servem rosas azuis?
Rosas azuis para provar que somos poderosos. Podemos criar todo o tipo de monstro. Até os lindos. Até os perfeitos. Nós, seres humanos, as divindades do mundo, domamos a natureza e criamos a vida. Somos os nossos deuses e nos colocamos no nosso próprio altar cercado das nossas próprias criações monstruosas: as rosas.
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Solo
Um momento de silêncio pela noite afora. Ela não dorme nunca. Deitada de bruços espera o sono que não vem. Ninguém sabe desta insônia. Desta falta de esperança de sonhos. Não sonhar é primordial, porque são os sonhos que nos atrapalham a vida.
Suspiros e gemidos no quarto ao lado não incomodam. Ao lado sempre é mais feliz do que aqui. Aqui a solidão é que atrapalha o sono. Ao lado os acompanhados se amam como gatos: aos berros. Deixa-os com seus ruídos e mergulha dentro de si. Nesse vazio em si. Nesse oco que a corrói.
O vazio dentro do quarto cresce em ondas. Marulhos, barulhos, ondas quebrando na praia. Um mar atormentado que cresce em olhos que não são seus. A tormenta passará, pensa, logo amanhece de novo e o mar se afasta. Com a maré mais baixa e a agitação do dia, as ondas do vazio se acalmam.
E a calmaria reina nos olhos dela o dia todo, até o fim. Até o início de tudo que não existe e não acontece no mar.
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