quinta-feira, 22 de abril de 2010

Hoje é o último dia


Se ela soubesse que hoje é o último dia, o que faria? Talvez dissesse “eu te amo” mais uma vez. Talvez derramasse amor por todos os lados e revelasse seu imenso desejo de estar com as pessoas queridas.
Se ela soubesse que hoje é de fato o último dia, talvez chorasse lamentando o pouco tempo. Talvez usasse o vestido mais bonito para ir trabalhar. Talvez respirasse fundo o ar de todos os dias e não reclamasse tanto da vida.
Se ela ao menos pudesse saber que hoje é um dia único, como todos os outros dias foram únicos, e passaram sem que percebesse. Talvez ficasse mais perto da natureza e caminhasse no lugar de usar o carro. Caminhar para observar as árvores e as pessoas na rua. Caminhar para dizer bom dia, boa tarde e boa noite aos vizinhos.
Se hoje fosse o último dia de ver o sol, será que ela ficaria presa em casa, sem sentir a luz e o calor do astro rei no corpo?
Se hoje fosse o último dia, será que ela ficaria muda diante das injustiças? Não falaria o que tem vontade de dizer?
Hoje é o último dia, mas ela não sabe. E na ignorância ela não faz nada: deixa tudo para o amanhã que não virá.
Ela recolhe o amor que sente e guarda para não dar a ninguém.
Escolhe uma roupa qualquer para ir ao trabalho, não presta atenção no ar que respira e reclama constantemente de tudo.
Ela sai de carro sem olhar para os lados e se esconde do sol com medo de câncer de pele.
Ela não se importa com as injustiças e passa muda diante delas.
Seria tão diferente se hoje ela soubesse que não há amanhã. Hoje é sempre hoje.
Quando chegar amanhã, será hoje também.
E todos os dias são o último dia, porque o futuro não existe. É sempre presente, é sempre agora, mas ninguém percebe. Todos os dias esperamos o amanhã para realizar os sonhos. Mas o amanhã não chega.
Os sonhos ficam na memória, como lembranças do que nunca foi, até que um dia, se tivermos sorte, seremos senis o bastante para confundir realidade e sonho. E os sonhos serão fortes o suficiente para conversamos com eles.
Ela espera ansiosa o dia em que será velha assim.

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