sábado, 19 de novembro de 2016

A vida é finita. 
Uma constatação óbvia.
Eternamente, enquanto a vida dura,
Lembraremos dos que se foram.
Outra constatação óbvia.
E, dentro das obviedades da vida,
foram-se treze anos sem Irene, a bela,
E quatro meses sem João Batista, o sábio.
Que as pessoas não voltam depois de apagada a fagulha da vida: óbvio.
Que a gente fica perdido entre as memórias e as saudades:
não tão óbvio assim.
Saudades é para sempre?

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Absurdo!

É um absurdo total o que estamos vivendo! É o cúmulo do absurdo! Não dá para suportar mais essa realidade em que os homens da lei, investidos da autoridade que o estado lhes concedeu, resolvem que podem violentar os professores e os estudantes que lutam pelos direito de manter a educação pública com um mínimo de qualidade e para todos. 
Educação laica de qualidade e para todos deveria ser um consenso.Todos deveriam estar lutando lado a lado para obter esse ideal.
Mas não é o que vemos: quando o governo propõe uma solução para a desordem dos gastos públicos, onde é que está escrito que cortar na carne dos pobres é a coisa mais certa a se fazer? Pior: onde é que está escrito que a gente deve sentar e ver o mundo que queríamos se despedaçar na nossa frente calados?
O projeto neoliberal de privatizar tudo já está em ação: diminuir os investimentos em educação e saúde significa inviabilizar a existência das escolas e hospitais públicos, os quais em breve serão entregues para a iniciativa privada.
E quem não tiver dinheiro para pagar, como é que faz?
Essas pessoas não existem nesse projeto de governo.
Nós, seres pensantes, nos tornamos perigosos nesse projeto de governo.
Nós também deixaremos de existir.
Vamos logo ser abafados, silenciados, com toda a força que repressão violenta tiver.
É o fim do mundo.
Do nosso mundo.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Eu protesto contra a Morte no dia de finados
Eu protesto contra a Morte no dia de finados
Destroem os nossos direitos
Nos arrancam a nossa democracia
(fragilzinha, pobrezinha, desmanchou-se com facilidade)
Nos enganaram dizendo que a educação ia funcionar agora
Mas deformaram o ensino médio com uma canetada
Tiraram de nós a arte, a arte, arte de pensar
Esvaziaram dos nossos corpos, o cérebro
Nos chamam de doutrinados
Querem que sejamos “sem partido”
Porque tomar partido é crime
Porque tomar partido é ser pensante
E pensar é crime também
Destroem os nossos direitos
Nos incriminam, cortam os nossos salários, nos ameaçam de demissão...
Vamos ser demitidos
Vamos ser pisoteados
Vamos ser machucados por dentro e por fora
Humilhados
Manchados
Maltrados
Seguiremos
Cantaremos nosso réquiem
Em frente, marcharemos para a morte
Eu protesto contra a nossa Morte no dia de finados
Morte do nosso mundo
Nossos sonhos sólidos se desmancham no ar
Teimamos
Nos transformamos
Nos recriamos
Das cinzas, surgirmos
Fênix mágica
Ave mitológica
Somos nós
Nós que não aceitamos o enterro
Que dos túmulos saltamos
Prontos para refazer o que sempre fizemos
Os sonhos
Levantamos das nossas tumbas
Pois nossa Morte se reveste de dor de interrompimento
Nossa morte resvala na ponta do sonho
E o sonho que nos puxa de volta
Nos busca no ventre da terra
Pisoteados que estávamos
Feridos que estávamos
Voltamos
Saímos de dentro do ventre da terra
Sujos do sangue da terra
Da terra refeitos
Os sonhos
Corremos de volta à luta
Os criminosos rechaçados
Os imundos seres pensantes
Os pedintes das ruas
Os reivindicantes
Os que exigem
Os direitos diretos
Os retos
Os tortos
Ainda que andasse pelo vale da sombra da morte
Nada temerei
Porque eu morro
Porque eu desmorro
Raivosamente lutando
De luto
Enlutado
Enlutando
Pelo que sonho
Eu protesto contra a Morte no dia de finados
(eu, Fabiana Lula, poetando no dia de finados, 02/11/16)