quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Diálogo entre duas moças que vão morrer*

- Então é isso: eu vou morrer.
- Mas todos nós vamos...
-Você não entende: eu estou muito doente, meus ossos são de vidro quebradiço, minha pele se liquefaz ao contato do ar, todo meu corpo desafia a possibilidade de vida...
- Você não é diferente de ninguém. Vai morrer agora ou daqui alguns dias ou daqui alguns anos... Todo mundo é assim...
- Só que eu estou desenganada, os médicos não sabem o porquê de eu ainda estar aqui. Vou morrer, de fato, como todo mundo, mas diferente dos outros, sei que não tenho muito tempo nessa vida, compreende agora?
- Sim, entendo o que você quer dizer. Mas não é tão ruim assim. Você não pode fazer planos para o futuro, porque sabe que ele não existe. Nós, que vamos morrer e não sabemos quando, ficamos construindo planos que talvez nunca se realizarão.
- Não é isso... você ainda não entendeu, a minha vida acabou, eu estou no fim... tenho o direito de estar desesperada!
- É... e você está desesperada?
- Não.
- Todos sabemos que vamos morrer. E lutamos ardentemente pela vida afora... E tentamos viver cada vez mais e melhor. Mas viver é mais complicado quando se tem um futuro. Como você só tem o presente não precisa se preocupar com o que há de vir. O que há de vir não é pra você sofrimento, porque sofrimento é só o presente...
- Eu morro e vocês ficam vivendo sem mim. Me sinto muito sozinha... eu vou e todo mundo fica...
- É verdade... mas também pode ser que eu morra antes de você. Quem sabe? Daí, você fica sozinha em vida. Parece que se pode prever o dia da sua morte, mas não se pode prever o meu... porque eu tenho saúde e posso morrer antes de você que não tem.
- Eu sei. Mas não devia estar desesperada? Não devia estar chorando e sofrendo por não ter futuro a minha espera? Eu não vou fazer um monte de coisas que você pode fazer: não vou estudar nem trabalhar, não vou casar nem ter filhos... eu nem posso me apaixonar, porque vou morrer. Eu não tenho esperança...
- Nem eu...

*baseado em fatos reais

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