sábado, 17 de outubro de 2009

Em comemoração ao dia dos professores


A vida não é fácil para ninguém, é verdade. Mas ainda assim corta o coração ver uma criança ter responsabilidades de um adulto. Outro dia encontrei um menino assim. Ele é sisudo como só um pai de família deveria ser. Um rapazinho miúdo e de óculos que nunca sorri. Na escola, ele senta na primeira carteira, não conversa, e presta bastante atenção na aula. Às vezes faz umas caretas, parece não estar bem, mas eu acho que na verdade deve ser dificuldade de entender o que está sendo dito.
São muitas as preocupações que atormentam aquela cabecinha. Ele me contou que tem três irmãos. Um mais velho e dois mais novos. Moram com a mãe, do pai nem uma palavra, também não perguntei. No dia em que conversamos, Rondney (é esse o nome dele) estava fazendo prova de inglês reclamando que não teve tempo de estudar. Por quê?
_Tive que levar meus irmãos no dentista_ respondeu sério.
_E a sua mãe? Você não disse a ela que precisava estudar?
_Disse, mas ela ia lavar roupa.
Lavar roupa! Veja: Rondney é um menino minúsculo, parece até um boneco de tão pequeno. Ele diz que tem doze anos, mas não aparenta nem dez. Mesmo assim ele pode pegar os dois irmãos caçulas e levar ao dentista, para ajudar a mãe que além de estar ocupada ainda paga a passagem do ônibus. Ele não paga, é muito pequeno. E seu irmão mais velho?
_Aquele lá ninguém entende. Ele quer ser mala. Para ele, meus irmãos são um peso. Eu que tenho de tomar conta deles.
Coitadinho. Tão novinho e já entendendo tanto do mundo. Com tanto peso no peito e nos olhos. Uma experiência incrível olhar nos olhos de um menino adulto. Não há leveza, nem brilho nesse olhar. Pelo contrário, o rosto dele é uma aberração. Demonstra um sofrimento, um cansaço, muito incomum.
Algumas mulheres mereciam nascer secas. Fertilidade para elas é inútil, pois põem no mundo pequenos sofredores. Crianças tristes, para quem até a esperança surge no horizonte como utopia: distante e inalcançável.

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