sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Sem título

O Sol no horizonte
se escondeu -
A noite se faz
presença eterna -

A noite toda preta -
Eu toda preta -
Me busco na Luz
da Lua -

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Avesso

Fim.
Terminar agora um ano
Terminar agora um amor
Começo.
Começar agora um ano
Começar agora um amor

Terminar é começar pelo avesso.

domingo, 19 de dezembro de 2010

o coração ainda pulsa

o coração ainda pulsa
apesar da ferida 
a dor não mata
a poesia

sábado, 18 de dezembro de 2010

amar o amor

a promessa de um beijo
as bocas próximas
da hora em que amar
o amor é mais importante
que o ser que se ama
se é que se ama

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Desejo

insaciável
e meu
com
sua capacidade de polvo
sua força de arrancar cabritos do teto
seu talento de criar sons a partir do nada
explodindo e implodindo
no
dentro
de mim

sábado, 4 de dezembro de 2010

Sem título

a fome que me domina
é chama alta
ou braseiro quente
é a tua pele clara
a cegar-me os olhos
é a urgência de sugar-lhe
o grito no instante brando
em que o prazer é dor

domingo, 28 de novembro de 2010

Quatro estações


Paciência. Nada dura para sempre. As coisas fluem como as águas de um rio, ou as estações de ano. Mesmo quando tudo parece igual, as cores, o ar, o clima são diferentes. Nada é permanente. Nem a dor: o sangue estanca, a ferida fecha, as cicatrizes somem. 

Paciência. A espera nunca é em vão. O tempo há de trazer o que é preciso: a mudança.

Paciência. Revoltas não são necessárias. A vida é assim: um eterno ir e vir do que é bom e também do que é ruim.

Um dia frio dará lugar ao calor. A chuva cederá lugar ao sol. O sol que faz o girassol girar. Paciência.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

aparentemente

aparentemente
nada mudou
em mim
nada mudou
aparentemente

o ontem e o hoje
se espelham
(aparentemente)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Saco

um cachorro dormindo sobre um saco
uma cadela que vigia a rua a espera
de que a vida um dia seja
mais que um saco

domingo, 21 de novembro de 2010

for live or die

sometimes life is hard
to live
the taste is good
but it is so wrong

the end doesn't look
the right
and it's light
'cause life is so dark

just die

sábado, 20 de novembro de 2010

domingo, 14 de novembro de 2010

poema X amor X matemática

poema, às vezes, tem mais que ver com matemática que com poesia
a vida é assim: estranha por partes e perfeita no todo
tudo parece místico ou cósmico, mas na verdade é químico e físico
e tudo é sempre amor
nada é sempre aquela ausência que aperta
falta de amor
aqueles nossos problemas são de transmissão e retransmissão
comunicação cortada como aquelas ligações para o celular de quem está no túnel
então, ouça bem: te amo como os cães se amam no meio da rua, como os porcos se reproduzem no chiqueiro, como os mendigos fazem filhos nas calçadas, como as ratazanas se multiplicando nos esgotos
amor de bicho e demoníaco que nada tem de poético
assim com certos poemas que de tão matemáticos dariam para fórmulas e cálculos e não para literatura.

Bonjour!

sábado, 13 de novembro de 2010

Silêncio

porque as vozes toadas nossas se confrontam e se juntam num etéreo zumbido e se fixam no espelho como se fossem vazio
como se nada fossem e se juntassem num silêncio puro
e por isso acomodadamente
silencio.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

domingo, 7 de novembro de 2010

Sua voz

Sua voz arranha
na minha garganta
Sua voz grita:                     o som do silêncio

sábado, 6 de novembro de 2010

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

It would be so nice...

Viver em slow motion, separar o bom do ruim easily e encontrar o que se precisa em dustbins.

domingo, 31 de outubro de 2010

Ciranda

Ninguém viu
a chuva que transbordou nos olhos dela
Tem importância não
era só goteira
Porque o telhado era de vidro
e se quebrou

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Eu não consigo odiar ninguém...




Para os pés

Quando ele se foi
meu olhar acompanhou
o vazio que me ficou

Um olhar simples e duro
para os pés puros
que se iam

E sumiam.

domingo, 24 de outubro de 2010

Preciso

Preciso do seu carinho torpe
que me rasga a carne
do coração

Preciso da nossa nudez santa
e da nossa fome branca
de ideologias

Preciso do seu amor quente
e da intranquilidade crua
de um seu olhar

sobre um meu corpo
nu e oferecido inteiro
ao seu desejo

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sexta-feira

cansaço
desfaço
num passo
o laço
devasso

depois de uma semana loooonga...

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

das tentativas de silêncio

por mais que eu me esforce
esse blá blá bla não cessa
se ao menos procurasse
silêncio dos sons lá fora
mas sou eu que não silencio

um dois três
ins tan tes
no va zio
va ci lo

eis que surge
imperioso
o pensamento
se só som sou

suplício só aceito
acolho o som do sofrimento

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Tudo coexiste

Tudo já é verdade, portanto, tudo coexiste desobstruidamente. Por exemplo, aqui está o espaço. As nuvens estão constantemente indo e vindo. Vem a chuva, vai-se a chuva. Trovoadas vem e vão. O vento vem e vai, vem e vai, vem e vai. As tempestades aparecem e desaparecem a toda hora. Embora todas essas coisas venham e passem incessantemente no espaço, ele mesmo não é, em absoluto, afetado por elas, porque espaço é completa vacuidade. Nuvem, chuva, vento, sol, noite, dia, não obstruem uns aos outros. Sua mente é exatamente assim. Se você praticar meditação com muita determinação, conseguirá compreender integralmente a vacuidade fundamental deste universo. Assim, quando os sentimentos vierem e se forem, e os pensamentos vierem e se forem, e situações boas vierem e se forem, e as situações ruins aparecerem e desaparecerem, nada pode obstruir você absolutamente. Tudo é vazio! Quando a felicidade aparecer, você pode usá-la pelos demais seres. Quando o sofrimento aparecer, você pode usá-lo para ajudar outros seres. Você pode usar situações boas e ruins, experiências boas e más, apenas para ajudar todos os seres a saírem do sofrimento, pois todas essas "coisas" são completamente vazias, e essa vacuidade é a nossa natureza compassiva natural.
Você sabe, por experiência própria, que quando gruda algo em sua mente, você sempre acaba sofrendo. Mas, se você não guardar qualquer coisa vazia que aparece e desaparece na sua mente, então nenhum sentimento, nenhum pensamento, nenhuma situação, nenhum problema conseguirá tocá-lo.  Seu pensamento é verdade. Sua felicidade é verdade; sua tristeza é verdade. Uma situação ruim é verdade. Uma boa situação na sua vida é também verdade. Tudo é a mesma vacuidade e, portanto, tudo é verdade, exatamente assim como é. O que não é verdade? Você conseguiria achar outra coisa? Por favor, mestre-a para mim!
(Mestre Zen Seung Sahn. A bússola do Zen. Bodigaya)

copiei daqui

E se Deus fosse um de nós?

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Pensamento desconjuntado

Toda vez que me enganam é como se o chão se abrisse para me engolir.
Toda vez é sempre a mesma história.
Sempre e sempre
não queriam me enganar.
E por que me enganam?
Porque sempre e sempre confio.
Acredito na bondade alheia.
Acredito.
E porque acredito me passam a perna.
Me passam a perna.
Me enganam toda vez e eu continuo
acreditando.
Maldita a minha fé na bondade alheia.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Guardei dentro do olhar

guardei dentro do olhar
o risco do cisco
e o sabor lento
do beijo
dos seus olhos
nos meus

domingo, 3 de outubro de 2010

Desejo


 seus olhos mirando nos meus, semicerrados
 a sua voz soando nos meus ouvidos, delícia
 sua boca em mim, por todos os cantos me sugando a vida
 suas mãos que me escrevem caminhos, me procuram, me encontram
 sua pele ora macia, ora firme, com gosto de sabonete
 o ritmo do seu quadril na cadência dos seus gemidos
 seus pelos sob os meus dedos
você debaixo dos beijos dos meus seios
e dentro de mim
cada vez mais
só desejo

sábado, 2 de outubro de 2010

Lembro-me


Lembro-me de gotículas de suor a brilhar no meu corpo
E elas não eram minhas.
Lembro-me do teu corpo suave a deixar o meu
E eu ainda tremia no depois.
Lembro-me do teu abraço e dos teus dentes
Tão rentes que faziam parte da minha pele.
Lembro-me do teu sorriso de menino levado
Dos teus passos ternos na minha direção.
Lembro-me de uma lufada de vento azul
A me percorrer e me envolver e me arrastar.
Lembro-me de lábios quentes e língua doce
Sabor de pêssego.
Lembro-me
Teus olhos nus a revelar pensamentos devassos
Tuas palavras sem medida e teu carinho tosco
Teu amor cheio de urgência e calor

Lembro-me
Não há como esquecer.

domingo, 26 de setembro de 2010

Música pra um bom domingo

ainda sobre os motivos de ler

ah, e tem o quê de perfume nesta leitura onde minha língua se esfrega! um cheiro, um perfume de livro que não sai das mãos mesmo depois de horas de banhos em cascatas de cachos...

sobre os motivos de ler





...ler é uma das maiores e melhores brincadeiras que inventaram. sem leitura e sem livros a vida seria mais sem graça do que já é. porque ler torna a vida menos desinteressante que até hoje eu ainda suporto essa felicidade toda que me enrola. porque todos dizem da minha tranquilidade é que eu acredito nela. porque todos dizem da minha inteligência é que às vezes eu acredito nela. mas se todos entrassem na minha pele por dois minutos, falariam ainda: como admiro a sua calma? quão canis e quão bestial! vida! sim, j'ai te aime. ma vie est belle. tout le monde parle ça. porque sem zulu e sem bijou não há muito o que dizer. porque sem dinheiro não há muito o que fazer a não ser trabalhar e trabalhar. o trabalho é bom pois ocupa o tempo ocioso e o ócio é pior veneno que inventaram para alma e para o corpo. porque se não fizer ioga tudo entreva e não conseguiremos dobrar a coluna para frente e com as pernas estendidas alcançar o joelho com a testa. tudo isso muito inútil e mesmo assim dá uma estranha sensação de poder mais do que antes. belo belo como é belo. e porque tanta beleza que não é minha e me sorri mesmo assim. esses cachos que me atormentam. anjo gabriel. vamos ler, porque ler preenche esse vazio abaixo do estômago, onde fica o diafragma, que endurece quando os nervos explodem e nos impendem a passagem do ar. eu sou boa pessoa e vou continuar sendo. apesar de ter te assassinado várias vezes. porque invade assim os pensamentos alheios, mereces morrer sempre. e eu leio. vejo os zés debaixo dos castanheiros virando árvores. criem raízes e saiam flores nas pontas desses narizes. eu leio para vê-las a elas; as flores que nos sorriem. gosto dessas leituras intermitentes, por isso leio as cartas. as cartas me contam histórias e estórias tão antigas como o nascer do sol. que se renova diariamente. penso. leio. trabalho. acho que eu sou alguém, enfim, que não irá se matar, mas que matará sempre que for necessário. por que você não morreu ainda se eu já te matei tantas vezes?

sábado, 25 de setembro de 2010

falarei

falarei das nuvens
porque meus lábios secos
te pedem chuva

falarei dos sons
que se movem no silêncio
que se desfaz em nós

falarei de corpos
porque se contorcem
em ondas e chamas

falarei de mim
enredada em meus contornos
direi apenas o que sou

sol

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A cura

Quando o amor ainda era uma flor no peito dela,
ele sorriu.
O sorriso dele tinha o dom de emudecer sangrias,
mas ela não sabia.

A lua rola no céu como uma lembrança quente,
mas o sol já vem.
Ela espera o sol nascer por detrás daquele.
São cílios que escondem os olhos do sol?

Os cabelos cascateiam quando ele sorri em cachos?
Um anjo que traz nas mãos a cura
as feridas esperam
abertas.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sobre os vazios

o ar
que me ultrapassa
e me preenche
o nada

suspiro entre elas
(as lágrimas)

lido com 
serenar
o que não há

domingo, 19 de setembro de 2010

tempo seco

tempo seco
chuva na memória
(memória na chuva)
minhas mãos se estendem
para aparar as gotas
de um amor
que não existe
tempo seco

sábado, 18 de setembro de 2010

penso
logo
insisto

domingo, 12 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

A casa

Às vezes minha alma duvida:
sou eu que moro na casa
ou é a casa que me mora?

Às vezes eu sonho acordada
e no sonho imagino minha casa
futura, que só existe no sonho
daí é a casa que não me tem
ou eu que não tenho a casa ainda?

Às vezes eu sonho dormindo
e no sonho imagino minha casa
passada, que só existe no sonho
daí é a casa que me mora
a casa que já foi destruída?

Às vezes é a casa a minha morada
mas, se a casa me duvida como eu duvido dela,
são essas paredes que me encerram
ou eu que me encerro nessas paredes?

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Borboletas Amarelas

Hoje estou com as borboletas amarelas:
Apaixonada por um mundo
de merda.

sábado, 4 de setembro de 2010

As coisas mais simples

"Poesia é voar fora da asa"
Manoel de Barros

Gosto de saber quente a brisa que sustenta a asa da borboleta.
De ter nas mãos um pouco da água que cai com a chuva.
A cor do som toda vez que os meninos passam voando sobre a minha casa nos ventos do mês de aposto.
As folhas que caem no solo derrubam o meu olho no chão.
As sombras das árvores que correm ao meu lado na rua serenam meus pés.
E há o sol. O sol que brilha e põe fogo no mundo. Minha pele esturricada de tanto sol inclemente sorri de agonia. Amo aquilo que dói.

domingo, 29 de agosto de 2010

Aceitar

Aceitar sem resistir a onda que vem e te leva. Acompanhar a correnteza e seguir sempre em frente. Mesmo sem saber o que te espera. As situações que a vida te propõe são estas. Poucas são as escolhas e todas são certas. Embarca nesta viagem e vá para onde o vento quiser te arrastar. Não há muito o que pensar. Não há nada o que falar. Segue.
Aceitar que tudo muda sem parar e que não há lugar para se segurar dentro deste redemoinho chamado vida. Clamar e reclamar não adianta. Correr pelos caminhos e aproveitar os momentos: todos são bons e a experiência prova isto. Espera e verás que os caminhos tortuosos e cheios de obstáculos do passado são apenas o treino. As coisas piores ainda virão. Segue.
Aceitar é seguir, ir sempre em frente, pois não há como retornar. Lembrar que todos somos sós do momento em que nascemos até o momento em que morremos. Desapegue e segue.

sábado, 28 de agosto de 2010

Sem título

A essência do som é o grito
A essência da luz é o sol

E a essência do ser?

É o vazio
É tudo o que não faz sentido
É a vida, é a vida

[um grito se expande como um raio de sol]

É a morte, é a morte

domingo, 22 de agosto de 2010

O que aprendemos com a dor*

Aprendemos com a dor a ser o que somos. Enquanto nada nos aflige voamos com nossos sonhos, transformando tudo aquilo a nossa volta em nós mesmos. Quando vem a dor e a dor nos impede o movimento, nos impede o sonho, e nos joga num quarto escuro e fechado, entendemos que somos nada. Nada somos para o mundo que nos consome por dentro. Criamos fábulas para o nada. A dor nos ensina o que realmente somos: nada.

*escrito depois de um dia dolorido.

sábado, 21 de agosto de 2010

Por que eu não como carne?

Porque só de pensar em comer animais mortos me revira o estômago.
Animais que têm sentimentos (amam como a gente, sentem medo como a gente e dor, eles sentem dor como a gente!).
Não dá para parar de pensar que esses animais foram mortos de maneira brutal, na maioria das vezes, se é que existe uma maneira de matar, assassinar suavemente (alguns frigoríficos dizem que há, mas pode ser mentira, afinal eles estão lidando com animais indefesos e que não têm voz para reclamar).
Depois de mortos, os animais são esquartejados, embalados e mandados para o supermercado, lá não parecem mais animais, não lembram mais o que foram, mas como comer aquilo sem pensar no que foram antes?
Seres vivos, tão parecidos comigo, que também amo, tenho medo e sinto dor, como se faz para não ter compaixão?
Minha resposta para as pessoas que me perguntam o porquê dessa opção tão "radical" é esta: como vocês fazem para comer carne sem sentir dó do bichinho que esse filé foi antes de virar alimento?
Além disso, descobri que uma alimentação sem carne é tão ou mais saudável que um alimentação com carne, além de ser tão ou mais saborosa.
Para quê então me alimentar da morte e da violência contra outro ser vivente e que tem o mesmo direito que eu a vida? Só porque a indústria da carne é extremamente lucrativa para seus donos?
Não preciso disso. E tenho dito.

domingo, 15 de agosto de 2010

A lógica da beleza

A beleza está naquilo que eu penso que é belo.
Não, a beleza não está no belo.
O belo e a beleza são conceitos.
Conceitos são pensamentos.
A beleza então está no pensar.
Tudo o que eu penso que é belo,
é belo porque assim me diz o meu pensar.
Meu pensamento que nem é meu é nosso
é que decide a beleza do belo.

sábado, 7 de agosto de 2010

Eu

Meus cabelos são anzóis e estão prendendo as estrelas na noite do meu eu.
Meus cabelos são extensos como a luz que se desprende do céu em dias ensolarados.
Meus cabelos têm as cores dessa mata verde que se acusa de engolir os mortos que são assassinados.
Os olhos se me despregam das faces é porque procuram por aquilo que não vêem e se me voejam em volta como moscas é porque não sabem onde está aquilo que buscam.
As minhas mãos tão largas cheias dessas lágrimas que não são minhas, amargam e se contorcem desesperadas.
As minhas mãos terminam em dedos finos que soam como cordas de viola no sertão que sou eu.
As minhas mãos que esfriam no verão e aquecem no inverno e esperam sedutoras pelo toque de veludo dos pelos alheios que são meus.
E esta barriga que é o centro do todo confuso do universo meu, se abre como uma boca dentada para o nada, para o nada;
Esse nada das minhas entranhas ávidas que sou eu, que sou eu.
E está aqui a rosa que se esconde entre as minhas pernas e que nada faz que não existir e desaparecer de tempos em tempos para depois girar com um peão nas mãos que depois a largam para brincar com outros games. A rosa só e tonta sem o ar...
E as minhas pernas que se alargam pelo ar, longas pernas que terminam em pontas de caminhos que não se percorrem, os caminhos que se servem e se abrem aos pés que são pequenas ideias de cor.
Esverdeia-se minha pele, e alteiam-se meus seios que são como montanhas loucas e de pelos louros que são como santos no altar da igreja de minha Mãe.
A igreja que sou eu.

domingo, 1 de agosto de 2010

Pensamento do dia

Para sempre é muito tempo.
Nunca também é.

Hoje nunca é tempo de para sempre. Presente.

sábado, 31 de julho de 2010

Depois de ler "Crime e Castigo"...

O crime é em si algo interdito, ou seja, o que a sociedade define como proibido. Por exemplo, matar, roubar, estuprar, bater em criancinhas... Mas quem define se isso é crime? E quem pune realmente esses crimes? É realmente ruim cometer crimes? Os crimes são coisas estranhas à nossa vida?

Matar não é a coisa mais estranha deste mundo, pelo contrário, é até muito comum. As pessoas matam e morrem pelos mais diferentes motivos. E nem sempre são motivos fortes, qualquer raiva mais forte pode se transformar num assassinato. O povo todo se ofende com o crime e passa a odiar o criminoso, até que esquece o fato ou outro crime mais escabroso toma conta do noticiário.

Roubar é a coisa mais normal que existe, principalmente aqui neste nosso maravilhoso território tupininquim. São os ricos e os políticos que mais roubam. E se a estes fazemos vista grossa, por que não perdoar àqueles que roubam porque são pobres e a miséria os impele a isso, ou desculpar aos que são viciados em droga e roubam por necessidade de satisfazer o vício, afinal estes são doentes?

Agora o estupro é crime sério, mas é aplicado contra mulheres ou crianças. Os homens não são estuprados, talvez por isso esse também não seja um crime tão incomum, pois se mulheres e crianças são seres menores dentro da hierarquia da nossa sociedade ainda tão machista. Assim como espancar crianças não é mais que uma forma de educá-las, estuprar mulheres é recolocá-las de volta ao seu lugar de origem, o qual deve ser sempre inferior ao dos homens. Tudo isso muito natural para ser motivo de escândalo.

Então o crime é interdito, mas é cometido todos os dias e, por isso, é muito aceito. A violência e a falta de gentileza entre as pessoas é coisa tão corriqueira que se não existissem provavelmente as inventaríamos. Dessa maneira, parar e perguntar o que é realmente crime, parece ao extremo desnecessário. O crime é parte integrante do nosso cotidiano. Precisamos dele. O crime é indecente? É, todos concordam, mas não vivemos sem ele. Somos todos indecentes criminosos em potencial.

No entanto, como seria viver numa sociedade sem crime? Essa é uma pergunta sem resposta, porque não conhecemos ainda sociedade que não tenha suas regras. E regras foram feitas para ser infrigidas. As maiores infrações são crimes. E gostamos deles. Gostamos de ver as regras serem colocadas em xeque. Amamos os criminosos e os crimes que eles cometem são para nós diversão. E quem disser o contrário está mentindo. A hipocrisia reinante por todo o lado não nos deixa perceber nossa própria mesquinharia. As nossas tentativas diárias de mudar as regras do jogo sem fazê-lo de todo. Não conseguimos admitir o nosso criminoso interior. Por esse motivo é tão bom assistir ao criminoso externo, e execrá-lo pela sua maldade. 

Ao odiar a maldade alheia, estamos nos salvando de nós mesmos. Odiamos aquilo que somos e não temos coragem de admitir. Sim, cumprimos as regras sociais, mas gostaríamos mesmo é de não cumprí-las. Viver selvagemente. Xingar o chefe, bater nas pessoas que desprezamos, cuspir na cara dos nossos pais... Somos ruins? Não, somos bichos. Bichos de gravata ou vestido de seda. Vivemos podando nosso animal interior. Viver civilizadamente é isso. Segurar dentro de nós o nosso criminoso interno, condenar àqueles que não conseguem fazer o mesmo, e perdoá-los secretamente por fazerem o queríamos fazer e não podemos.

sexta-feira, 30 de julho de 2010



A carta de hoje é muito bonita e consoladora. Nela aparece o não-iniciado, aquele que pode estar tanto no início do caminho como no fim.  O caminho que nos leva ao autoconhecimento e à felicidade é complicado. Erramos muitas vezes e, por esse motivo, precisamos constantemente recomeçar. Para isso só podemos contar com os nossos instintos, pois são estes que nos levam a nós mesmos e àquilo que nos faz bem. O fim é sempre um recomeço, porque, mesmo quando nada dá certo e nossos problemas parecem sem saída, podemos nos sentir diante da transformação. A transformação nos faz retomar nossos projetos e encontrar novos objetivos que nos satisfaçam como pessoas.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Apego

este facho que me incendeia
é teu rastro nas minhas costas
mas ainda é pouco

: quero mais

terça-feira, 27 de julho de 2010

Para o pássaro

Vestiu as penas do acaso

e partiu

domingo, 25 de julho de 2010

Para o músico

Nos meus sonhos
Suas mãos tocam
Sons de carícias

Minha pele, seu instrumento
Meus gemidos, sua música

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Citação de José Saramago

Enquanto estamos a falar, há milhares de milhões de pessoas que morrem de fome. Como podemos aceitar que o homem não seja um ser solidário, que já não pense na espécie e se tenha convertido num monstro de egoísmo e ambição que despreza milhares de pessoas que nada têm? Não se faz nada para resolver problemas essenciais. Para milhões de pessoas no mundo, nenhum dos problemas essenciais da vida está resolvido, enquanto nos entretemos a enviar um aparelhinho para Marte…
“O homem transformou-se num monstro de egoísmo e ambição”, El Cronista, Buenos Aires, 11 de Setembro de 1998 [Entrevista de Osvaldo Quiroga]

Noite longa, dia escuro

A noite é longa. Comprida como o quê... Quando se está cercada de monstros invisíveis, meninas mortas te olhando de dentro do caixão. Morri por sua causa, elas contam, porque você não tomou conta de mim quando eu mais precisava. E os meninos? Desaparecem na escuridão do quarto. Você procura por eles como louca e escuta apenas os sorrisos e os motejos. Nunca mais vou voltar, eles dizem, você não tomou conta de mim quando eu mais precisava.
Ai, noite longa e cheia de choro e gemido. Às vezes a gente acorda e percebe que era só um pesadelo, outras tantas a gente acorda e o pesadelo parece tão real que continua. Onde estão os meninos e as meninas? você se pergunta e procura e descobre que eles e elas não existem. O que é pior? O sonho ou a realidade?
Quem disse que eles são diferentes? O sonho é tão real para o cérebro quanto a realidade é ilusão. Vivemos em noites longas ou as noites longas dão lugar a dias escuros infinitos?
O amor muitas vezes parece com o ódio e a gente se confunde e acha que odeia quem a gente ama. Por que não conseguimos admitir que amamos e que nos preocupamos? Por que fingimos indiferença e raiva? O amor tornaria tudo mais fácil se conseguíssemos enxergá-lo. 
É só amor, não é raiva. É só preocupação, não é indiferença. Mas essa noite longa e esse dia escuro? Fomos nós que os inventamos? Por que choro se na verdade amo?

terça-feira, 20 de julho de 2010

A estrela mágica



 Não tenho muitas cartas na manga, mas essa é a de hoje. Simboliza a magia do amor que nos guia pelos caminhos que trilhamos. Indica que a transformação está próxima daquilo que precisamos e que fizemos boas escolhas. Uma carta que me emociona, me faz ter esperanças na vida.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Meu amor


Meu amor tem se revelado aos poucos. Ele aparece aqui e ali como um lampejo de um raio. Eu fico com receio de mostrá-lo por inteiro, porque meu amor é grande, monstruosamente grande e selvagem.
Muitas vezes, eu faço o possível para disfarçá-lo. Fazer ele parecer outra coisa. Chamo meu amor por outros apelidos. Digo que é amizade, admiração, ou, quando ele está incontrolável, loucura.
Quase nunca o deixo solto. Meu amor vive preso dentro de mim, embora seja uma prisão difícil. Tento controlá-lo, para que ele não fique por aí incomodando as visitas. Mas ele, mesmo escondido, faz barulho. Perturba.
Quero que ele se comporte civilizadamente. Ou seja, quero-o adestrado e dócil, antes que ele surja na frente dos outros. Quero que ele seja bem adequado, educado e sereno, para que não espante ninguém.
Meu amor não vai pular nas pessoas e sujá-las com a sua imundice de cria da rua. Meu amor não surgirá aos berros, para atrapalhar os que nada têm com isso. Meu amor será sempre belo, gentil e bem aceito.
Meu amor será fera domada.

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