O crime é em si algo interdito, ou seja, o que a sociedade define como proibido. Por exemplo, matar, roubar, estuprar, bater em criancinhas... Mas quem define se isso é crime? E quem pune realmente esses crimes? É realmente ruim cometer crimes? Os crimes são coisas estranhas à nossa vida?
Matar não é a coisa mais estranha deste mundo, pelo contrário, é até muito comum. As pessoas matam e morrem pelos mais diferentes motivos. E nem sempre são motivos fortes, qualquer raiva mais forte pode se transformar num assassinato. O povo todo se ofende com o crime e passa a odiar o criminoso, até que esquece o fato ou outro crime mais escabroso toma conta do noticiário.
Roubar é a coisa mais normal que existe, principalmente aqui neste nosso maravilhoso território tupininquim. São os ricos e os políticos que mais roubam. E se a estes fazemos vista grossa, por que não perdoar àqueles que roubam porque são pobres e a miséria os impele a isso, ou desculpar aos que são viciados em droga e roubam por necessidade de satisfazer o vício, afinal estes são doentes?
Agora o estupro é crime sério, mas é aplicado contra mulheres ou crianças. Os homens não são estuprados, talvez por isso esse também não seja um crime tão incomum, pois se mulheres e crianças são seres menores dentro da hierarquia da nossa sociedade ainda tão machista. Assim como espancar crianças não é mais que uma forma de educá-las, estuprar mulheres é recolocá-las de volta ao seu lugar de origem, o qual deve ser sempre inferior ao dos homens. Tudo isso muito natural para ser motivo de escândalo.
Então o crime é interdito, mas é cometido todos os dias e, por isso, é muito aceito. A violência e a falta de gentileza entre as pessoas é coisa tão corriqueira que se não existissem provavelmente as inventaríamos. Dessa maneira, parar e perguntar o que é realmente crime, parece ao extremo desnecessário. O crime é parte integrante do nosso cotidiano. Precisamos dele. O crime é indecente? É, todos concordam, mas não vivemos sem ele. Somos todos indecentes criminosos em potencial.
No entanto, como seria viver numa sociedade sem crime? Essa é uma pergunta sem resposta, porque não conhecemos ainda sociedade que não tenha suas regras. E regras foram feitas para ser infrigidas. As maiores infrações são crimes. E gostamos deles. Gostamos de ver as regras serem colocadas em xeque. Amamos os criminosos e os crimes que eles cometem são para nós diversão. E quem disser o contrário está mentindo. A hipocrisia reinante por todo o lado não nos deixa perceber nossa própria mesquinharia. As nossas tentativas diárias de mudar as regras do jogo sem fazê-lo de todo. Não conseguimos admitir o nosso criminoso interior. Por esse motivo é tão bom assistir ao criminoso externo, e execrá-lo pela sua maldade.
Ao odiar a maldade alheia, estamos nos salvando de nós mesmos. Odiamos aquilo que somos e não temos coragem de admitir. Sim, cumprimos as regras sociais, mas gostaríamos mesmo é de não cumprí-las. Viver selvagemente. Xingar o chefe, bater nas pessoas que desprezamos, cuspir na cara dos nossos pais... Somos ruins? Não, somos bichos. Bichos de gravata ou vestido de seda. Vivemos podando nosso animal interior. Viver civilizadamente é isso. Segurar dentro de nós o nosso criminoso interno, condenar àqueles que não conseguem fazer o mesmo, e perdoá-los secretamente por fazerem o queríamos fazer e não podemos.
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