sábado, 31 de julho de 2010

Depois de ler "Crime e Castigo"...

O crime é em si algo interdito, ou seja, o que a sociedade define como proibido. Por exemplo, matar, roubar, estuprar, bater em criancinhas... Mas quem define se isso é crime? E quem pune realmente esses crimes? É realmente ruim cometer crimes? Os crimes são coisas estranhas à nossa vida?

Matar não é a coisa mais estranha deste mundo, pelo contrário, é até muito comum. As pessoas matam e morrem pelos mais diferentes motivos. E nem sempre são motivos fortes, qualquer raiva mais forte pode se transformar num assassinato. O povo todo se ofende com o crime e passa a odiar o criminoso, até que esquece o fato ou outro crime mais escabroso toma conta do noticiário.

Roubar é a coisa mais normal que existe, principalmente aqui neste nosso maravilhoso território tupininquim. São os ricos e os políticos que mais roubam. E se a estes fazemos vista grossa, por que não perdoar àqueles que roubam porque são pobres e a miséria os impele a isso, ou desculpar aos que são viciados em droga e roubam por necessidade de satisfazer o vício, afinal estes são doentes?

Agora o estupro é crime sério, mas é aplicado contra mulheres ou crianças. Os homens não são estuprados, talvez por isso esse também não seja um crime tão incomum, pois se mulheres e crianças são seres menores dentro da hierarquia da nossa sociedade ainda tão machista. Assim como espancar crianças não é mais que uma forma de educá-las, estuprar mulheres é recolocá-las de volta ao seu lugar de origem, o qual deve ser sempre inferior ao dos homens. Tudo isso muito natural para ser motivo de escândalo.

Então o crime é interdito, mas é cometido todos os dias e, por isso, é muito aceito. A violência e a falta de gentileza entre as pessoas é coisa tão corriqueira que se não existissem provavelmente as inventaríamos. Dessa maneira, parar e perguntar o que é realmente crime, parece ao extremo desnecessário. O crime é parte integrante do nosso cotidiano. Precisamos dele. O crime é indecente? É, todos concordam, mas não vivemos sem ele. Somos todos indecentes criminosos em potencial.

No entanto, como seria viver numa sociedade sem crime? Essa é uma pergunta sem resposta, porque não conhecemos ainda sociedade que não tenha suas regras. E regras foram feitas para ser infrigidas. As maiores infrações são crimes. E gostamos deles. Gostamos de ver as regras serem colocadas em xeque. Amamos os criminosos e os crimes que eles cometem são para nós diversão. E quem disser o contrário está mentindo. A hipocrisia reinante por todo o lado não nos deixa perceber nossa própria mesquinharia. As nossas tentativas diárias de mudar as regras do jogo sem fazê-lo de todo. Não conseguimos admitir o nosso criminoso interior. Por esse motivo é tão bom assistir ao criminoso externo, e execrá-lo pela sua maldade. 

Ao odiar a maldade alheia, estamos nos salvando de nós mesmos. Odiamos aquilo que somos e não temos coragem de admitir. Sim, cumprimos as regras sociais, mas gostaríamos mesmo é de não cumprí-las. Viver selvagemente. Xingar o chefe, bater nas pessoas que desprezamos, cuspir na cara dos nossos pais... Somos ruins? Não, somos bichos. Bichos de gravata ou vestido de seda. Vivemos podando nosso animal interior. Viver civilizadamente é isso. Segurar dentro de nós o nosso criminoso interno, condenar àqueles que não conseguem fazer o mesmo, e perdoá-los secretamente por fazerem o queríamos fazer e não podemos.

sexta-feira, 30 de julho de 2010



A carta de hoje é muito bonita e consoladora. Nela aparece o não-iniciado, aquele que pode estar tanto no início do caminho como no fim.  O caminho que nos leva ao autoconhecimento e à felicidade é complicado. Erramos muitas vezes e, por esse motivo, precisamos constantemente recomeçar. Para isso só podemos contar com os nossos instintos, pois são estes que nos levam a nós mesmos e àquilo que nos faz bem. O fim é sempre um recomeço, porque, mesmo quando nada dá certo e nossos problemas parecem sem saída, podemos nos sentir diante da transformação. A transformação nos faz retomar nossos projetos e encontrar novos objetivos que nos satisfaçam como pessoas.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Apego

este facho que me incendeia
é teu rastro nas minhas costas
mas ainda é pouco

: quero mais

terça-feira, 27 de julho de 2010

Para o pássaro

Vestiu as penas do acaso

e partiu

domingo, 25 de julho de 2010

Para o músico

Nos meus sonhos
Suas mãos tocam
Sons de carícias

Minha pele, seu instrumento
Meus gemidos, sua música

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Citação de José Saramago

Enquanto estamos a falar, há milhares de milhões de pessoas que morrem de fome. Como podemos aceitar que o homem não seja um ser solidário, que já não pense na espécie e se tenha convertido num monstro de egoísmo e ambição que despreza milhares de pessoas que nada têm? Não se faz nada para resolver problemas essenciais. Para milhões de pessoas no mundo, nenhum dos problemas essenciais da vida está resolvido, enquanto nos entretemos a enviar um aparelhinho para Marte…
“O homem transformou-se num monstro de egoísmo e ambição”, El Cronista, Buenos Aires, 11 de Setembro de 1998 [Entrevista de Osvaldo Quiroga]

Noite longa, dia escuro

A noite é longa. Comprida como o quê... Quando se está cercada de monstros invisíveis, meninas mortas te olhando de dentro do caixão. Morri por sua causa, elas contam, porque você não tomou conta de mim quando eu mais precisava. E os meninos? Desaparecem na escuridão do quarto. Você procura por eles como louca e escuta apenas os sorrisos e os motejos. Nunca mais vou voltar, eles dizem, você não tomou conta de mim quando eu mais precisava.
Ai, noite longa e cheia de choro e gemido. Às vezes a gente acorda e percebe que era só um pesadelo, outras tantas a gente acorda e o pesadelo parece tão real que continua. Onde estão os meninos e as meninas? você se pergunta e procura e descobre que eles e elas não existem. O que é pior? O sonho ou a realidade?
Quem disse que eles são diferentes? O sonho é tão real para o cérebro quanto a realidade é ilusão. Vivemos em noites longas ou as noites longas dão lugar a dias escuros infinitos?
O amor muitas vezes parece com o ódio e a gente se confunde e acha que odeia quem a gente ama. Por que não conseguimos admitir que amamos e que nos preocupamos? Por que fingimos indiferença e raiva? O amor tornaria tudo mais fácil se conseguíssemos enxergá-lo. 
É só amor, não é raiva. É só preocupação, não é indiferença. Mas essa noite longa e esse dia escuro? Fomos nós que os inventamos? Por que choro se na verdade amo?

terça-feira, 20 de julho de 2010

A estrela mágica



 Não tenho muitas cartas na manga, mas essa é a de hoje. Simboliza a magia do amor que nos guia pelos caminhos que trilhamos. Indica que a transformação está próxima daquilo que precisamos e que fizemos boas escolhas. Uma carta que me emociona, me faz ter esperanças na vida.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Meu amor


Meu amor tem se revelado aos poucos. Ele aparece aqui e ali como um lampejo de um raio. Eu fico com receio de mostrá-lo por inteiro, porque meu amor é grande, monstruosamente grande e selvagem.
Muitas vezes, eu faço o possível para disfarçá-lo. Fazer ele parecer outra coisa. Chamo meu amor por outros apelidos. Digo que é amizade, admiração, ou, quando ele está incontrolável, loucura.
Quase nunca o deixo solto. Meu amor vive preso dentro de mim, embora seja uma prisão difícil. Tento controlá-lo, para que ele não fique por aí incomodando as visitas. Mas ele, mesmo escondido, faz barulho. Perturba.
Quero que ele se comporte civilizadamente. Ou seja, quero-o adestrado e dócil, antes que ele surja na frente dos outros. Quero que ele seja bem adequado, educado e sereno, para que não espante ninguém.
Meu amor não vai pular nas pessoas e sujá-las com a sua imundice de cria da rua. Meu amor não surgirá aos berros, para atrapalhar os que nada têm com isso. Meu amor será sempre belo, gentil e bem aceito.
Meu amor será fera domada.

domingo, 18 de julho de 2010

A menina

A menina de saia branca ensaia um muxoxo. Quanta vontade de poesia existe dentro dela. Mas nada lhe vem para contar ou cantar. Tédio.
A saia branca de renda rodopia no corpo. É só abrir os braços e deixar a música entrar, pra dançar e dançar. Mas a música não lhe chega a tocar os ouvidos. Tédio.
Brancas também são as mãos da menina. As unhas rosadas quase transparecem o medo que ela tem. De que tens medo menina? 
A vida passa em brancas nuvens pela janela. E a menina observa o correr dos anos amarelar os dentes, amarelar a saia, amarelar as unhas... O tédio é amarelo, pensa.
A vida passa e os temores sempre se confirmam. Que há que não há? Não há nada. Nada, depois de nada.
Só nuvens brancas a passar.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Oração ao sol

sol
tu que me douras
pelos e pele
que me esquentas 
e acalentas na face
fazei de mim
uma obra tua
deixai-me as marcas
do teu amor ardente
quero ser nua
uma lembrança tua
na escuridão dos quartos
amém

domingo, 11 de julho de 2010

Saudade Azul

Não sei o que fazer com esse céu sem nuvem
é tanto vazio que meus olhos azulam
e de tão cheios de azul
transbordam
e choram

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ilha

pedaço de solidão cercado de mar
que nada possui de seu para dar
apenas água e sal das ondas
que batem e rebatem na praia
a ilha cansada de tanto ar
se deixa engolfar
por um céu tão azul quanto o mar          
a fenda          abre devagar
ranhadura na carne da terra
a ilha entrega
ao azul do céu e do mar
a dádiva última
que nasce
no silêncio
da flor

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Na minha boca

mora na minha boca
o gosto do teu desejo
ondeante

onde antes
moravas em beijo
o sol saliva na linha da língua