Um vazio profundo, portanto, se estiver procurando algo, pule para o próximo blog.
quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Sobre o ano novo
Nem gosto de começo
Quando emenda o fim com o começo
Então detesto...
domingo, 27 de dezembro de 2009
sexta-feira, 25 de dezembro de 2009
Natal
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
Luz
desde o centro
até o dentro
brota na flor
e transborda
até a flor
da pele
me acende
e rescende
à flor
transparece
em rubror
ou calor
domingo, 20 de dezembro de 2009
Fonte
que é pura
jorram as águas
que são tuas
Águas que escorrem
por entre as frestas
e apenas querem
saciar a sede dos poetas
quarta-feira, 16 de dezembro de 2009
Febre
O corpo arde
A alma arrepia
Uma voz ausente
Que me acende
Perturba o sono
Até o sonho
Até o delírio
Até o impossível
domingo, 13 de dezembro de 2009
Viola
tão solitária neste canto
a recordar-me saudosa
do teu suave encanto?
Por que tu me deixas
em abandono jogada
se sabes que meus sons
são das tuas mãos morada?
É com teus dedos ávidos
a percorrer-me as cordas
que arranca-me doces gemidos
por isso te imploro: toca-me.
Pois quando a tristeza aflora
nesta imensidão de silêncio
sem ti, tudo em mim chora,
por isso te imploro: viola-me.
sábado, 12 de dezembro de 2009
O primeiro passeio
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
Línguas
e deformam ao toque de vida
e desmontam planos e amontoam sonhos
as línguas tortas os caminhos tortuosos
percorrem promessas voláteis
que escorrem pelo ar cheio
luzes cobertas de som
o multicolorido barulhento
de um mundo que se derrete
sua úmido de calor e dor
as línguas turvas de ideias
desarvoradas porém descrentes
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
domingo, 6 de dezembro de 2009
Magma
Nem esta chuva fina
Nem esta alegria miúda
Impedem esse magma*
que me destrói a calma
*(lava ardente que me lambe e queima lentamente)
sexta-feira, 4 de dezembro de 2009
monstros
quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Solo
segunda-feira, 30 de novembro de 2009
domingo, 29 de novembro de 2009
sem grandes desejos
decidi doar-me em favor da alegria alheia
e deixei que me escovassem os cabelos
me vestissem um vestido cor de arco-íris
me calçassem sandálias tão altas
me pintassem o rosto numa máscara
e me escondessem
eu em mim perdida
feita outra
e foi assim estranha pessoa
erguida a força as alturas
colorida e lisa
intensamente não eu
que me desdisse
encurralada
a minha
paixão
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Como num diálogo surdo
no aroma rarefeito das ideias
suspensas no vazio
frio
das muitas distâncias
língua
contra
língua
num debate embate
de pouca entrega
e muita luta
molhada de água
que as palavras lava
lava que escorre
de um vulcão
extinto
e surdo
mudo
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Pedra
Pedra de gelo estátua dura de mulher
Gelada fria imóvel e impassível
Espera impossível o supremo sopro
Sublime divina centelha de fogo
E gozo de luz e calor que derrete
A estátua que sua nua e crua
Sob a lua luz da rua sua tua.
sábado, 21 de novembro de 2009
vazios suspensos
voejamos
moscas
soltas
doudas
nada a pensar nem a fazer
voejamos
luz na poeira
doira
sujeira
solta
no ar
sobre os vazios suspensos
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
por isso
terça-feira, 17 de novembro de 2009
testamento
os meus
pedaços
te deixo
minha malfadada herança
roça sem pejo
os teus pelos menos
te oferecendo
te negando
te controlando
com parcimoniosa
selvageria
os fluxos de desejo
por um corpo despedaçado
domingo, 15 de novembro de 2009
Chá
para se acalmar
não fique nervosa
que isso te faz mal
não tire as roupas do armário
fique
nada aconteceu de verdade
foi só nossa imaginação
não te acusamos de má
não queremos que vá
te perseguimos sim
porque é amor
o que sentimos
por favor não fuja
fique
tome um chá
para se acalmar
...
gosto de chá
em belas xícaras
brancas
com pequenos desenhos
flores vermelhas
mansas
em belas xícaras
brancas
gosto de chá
em canecas antigas
esmaltadas
canecas de casa de vó
gosto de chá
adocicado com amor de vó
de voz docinha
dizendo
não fica nervosa
que te faz mal
tome um chá
para se acalmar
fique
sábado, 14 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Mais uma boa experiência de leitura
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
O que fazer?
graça e sentido,
Quando não há
razão e motivo,
Quando não há
nada a dizer
ou sentir,
O que fazer?
Calar-se...
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
Os mortos
todo mundo que nasce um dia morre,
ou, muitas vezes, morre antes de nascer,
então, faz parte do problema de viver,
um dia não mais viver, morrer.
Na maior parte do tempo corremos da morte,
vamos ao médico sempre que adoecemos,
tomamos remédio, usamos óculos, passamos creme,
protetor solar, nos alimentamos com cuidado, fazemos exercício,
cuidamos do corpo e do espírito, trabalhamos, descansamos,
tudo para manter a boa saúde e viver mais e melhor.
Mas o fato é que nada disso adianta,
pois um dia chega a dama branca,
com sua foice gelada e nos sorri com dentes perolados,
e, sem outra escolha, nos abandonamos a ela, deixando para trás
toda a família, que tanto amamos, protegemos e conservamos,
também ficam os bens que adquirimos com esforço e suor,
a bela casa, o carro imenso, as roupas de marca, compradas no shopping,
as jóias que usamos tão pouco, com medo dos ladrões.
Nada mais óbvio que a morte, não importa de quê morremos,
O que importa é que esta bela senhora vestida de branco com sua linda e afiada foice,
chega.
Chega sorrindo sempre com seus dentes perolados e não há como fugir desta sina.
Ela está esperando a hora certa, ou incerta, ou talvez nem seja isso,
ela está aqui ao meu lado todo o tempo esperando a sorte ou acaso,
uma doença mais grave que este resfriado, ou um acidente mais ferrado,
ou talvez ela esteja esperando eu me decidir
'corto ou não corto esse pulso direito?'
pois alguns amam mais do que eu essa dama branca,
e morrem mais e melhor do que eu
todos os dias,
às vezes, mais do que nascem,
morrem...
Mas um dia será O dia, também o meu e dos outros,
não tem tanto drama com dizem, pois afinal, é o final,
aquele que tanto aguardamos no cinema ou no teatro,
quando assistimos um suspense, ou que nos faz saltar as páginas de um livro,
pra saber quem é o bandido e se alguém vai morrer logo, ou se demora ainda,
ou se vai se salvar e o no fim tudo fica bem, se há casamento, e filhos e happy end
Só que na vida real o fim não é agarrar a noiva pelos cabelos e tascar-lhe um profundo beijo,
nem tanto isso, porque este é só o começo, enfim, depois do casamento, e dos filhos, e de tudo o mais que:
Mais que tudo, o fim é quando finalmente se morre,
porque só depois disso é que as pessoas dizem
"esse era um bom sujeito"
ou dizem, "vaso ruim um dia quebra",
mas dizem tudo isso porque era razoável que um dia todos morrem.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Animal
espreita e espera
sem descanso
o que ele quer?
esta carne
que ele ataca
que ele arranha
que ele odeia
que ele ama
deseja destruição
dilacera
devora
delicia
e se alimenta
de mim
esta carne
deprezada e desejada
amada e odiada
carne podre
meu cadáver
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Lago Azul
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Palavra
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Perfume
de uma ferida
Escorre gotejante
pelos poros puros
Um cheiro triste
silencioso olor
sabor de morte
Carniça
sábado, 24 de outubro de 2009
Meditação transcendental
é difícil
mas
como eu quereria
parar de pensar
por um só instante
parar
de
pensar.
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Ser mulher
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Eu não sei o porquê...
Por que essa sensação de absurdo, se ainda não há erro?
Por que essa vontade de não ser, se nunca fui de fato?
sábado, 17 de outubro de 2009
Em comemoração ao dia dos professores
São muitas as preocupações que atormentam aquela cabecinha. Ele me contou que tem três irmãos. Um mais velho e dois mais novos. Moram com a mãe, do pai nem uma palavra, também não perguntei. No dia em que conversamos, Rondney (é esse o nome dele) estava fazendo prova de inglês reclamando que não teve tempo de estudar. Por quê?
_Tive que levar meus irmãos no dentista_ respondeu sério.
_Disse, mas ela ia lavar roupa.
_Aquele lá ninguém entende. Ele quer ser mala. Para ele, meus irmãos são um peso. Eu que tenho de tomar conta deles.
Coitadinho. Tão novinho e já entendendo tanto do mundo. Com tanto peso no peito e nos olhos. Uma experiência incrível olhar nos olhos de um menino adulto. Não há leveza, nem brilho nesse olhar. Pelo contrário, o rosto dele é uma aberração. Demonstra um sofrimento, um cansaço, muito incomum.
Algumas mulheres mereciam nascer secas. Fertilidade para elas é inútil, pois põem no mundo pequenos sofredores. Crianças tristes, para quem até a esperança surge no horizonte como utopia: distante e inalcançável.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Entre dois mundos
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Ela vai morrer de câncer
Ela vai morrer de câncer e isso é fato. Todo mundo sabe disso e observa como a cada dia ela parece mais fraca. Dizem que as mulheres que são traídas pelos maridos sempre desenvolvem um tipo de câncer. É o câncer das corneadas, um câncer que mistura tristeza e frustração. E pode até ser verdade já que o primeiro marido dela era mesmo um murelhengo. Tanto que todo mundo diz que ele morreu de ataque fulminante do coração enquanto transava com uma mulher vinte anos mais nova. Deve ter sido muito constrangedor para a jovem ter de chamar a funerária no motel.
Mas o fato é que ela vai morrer de câncer, não importa se por causa das muitas vezes que foi traída pelo seu primeiro marido. Primeiro, porque depois desse, ela se casou novamente. Dessa vez, o homem era sério e pareceu gostar dela, em especial pelo simples motivo de ter ficado viúvo e com dois filhos para acabar de criar: um deles ainda adolescente e o outro portador de necessidades especiais. Como ele ia cuidar de suas fazendas e suas muitas cabeças de gado, tendo que cuidar da casa e dos filhos? Ele necessitava de uma mulher para tomar conta dessas coisas práticas: a limpeza da casa, a comida, a roupa que precisava ser lavada e passada, e, ainda, os filhos... Ela aceitou o casamento e todo mundo disse que foi por causa do dinheiro. Ninguém pensou que ela talvez não quisesse ficar sozinha, sem marido, desempregada e com duas filhas desamparadas. Ninguém pensou que talvez a solidão e a rejeição do primeiro marido a tivessem feito valorizar a possibilidade de ser escolhida por um homem que, sendo rico, poderia ter escolhida qualquer outra.
E agora ela vai morrer de câncer. Não importa mais se o atual marido tem dinheiro, nem importa se ela deu o famoso golpe do baú, e muito menos todos os anos que ela teve de agüentar a maledicência de todo mundo. Ela que todo mundo tinha como a chifruda que conseguiu dar a volta por cima, casando de novo com um homem de posses, na verdade é uma mulher simples. A vida inteira cuidou de tudo e todos. Era ela quem curava as bebedeiras do primeiro marido, quem protegia as filhas da violência paterna. Era ela quem, um dia viúva, levantou a cabeça e olhou para o lado procurando outros a quem pudesse cuidar. E, sim, ela encontrou outro homem que precisava dela. E cuidou dele. Cuidou também dos filhos dele, do adolescente e do deficiente. Não reclamou de nada. Cuidou de todos com muito e verdadeiro amor.
E vai morrer de câncer. Sob os olhos de todo mundo, isso é fato. Vai morrer, e será que agora que o fim está próximo, alguém vai cuidar dela?
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Língua negra
que no dentro no meu dentro
do meu centro que no centro
me fere a pele língua negra
domingo, 11 de outubro de 2009
Sol
Hoje amanheci mais cedo
lavei os olhos no orvalho da madrugada
respirei uma umidade impregnada de dedos
me preparei para estar todo o dia ensolarada
Nada no ardor do corpo ruído
a dar braçadas através do astro rei
tingir pele e pelos de amargo amarelecido
sol
sábado, 10 de outubro de 2009
Sobre o amor V
Olhos repousam repulsivos nas retinas
Sorrisos desmontam-se de encontro a lábios
Corações debatem-se dentro do peito
Centros incandescentes a ferver os miolos
Almas que invejam os corpos doentes de amor
Que se entendem...
Que se entendem...
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Diálogo entre duas moças que vão morrer*
- Mas todos nós vamos...
-Você não entende: eu estou muito doente, meus ossos são de vidro quebradiço, minha pele se liquefaz ao contato do ar, todo meu corpo desafia a possibilidade de vida...
- Você não é diferente de ninguém. Vai morrer agora ou daqui alguns dias ou daqui alguns anos... Todo mundo é assim...
- Só que eu estou desenganada, os médicos não sabem o porquê de eu ainda estar aqui. Vou morrer, de fato, como todo mundo, mas diferente dos outros, sei que não tenho muito tempo nessa vida, compreende agora?
- Sim, entendo o que você quer dizer. Mas não é tão ruim assim. Você não pode fazer planos para o futuro, porque sabe que ele não existe. Nós, que vamos morrer e não sabemos quando, ficamos construindo planos que talvez nunca se realizarão.
- Não é isso... você ainda não entendeu, a minha vida acabou, eu estou no fim... tenho o direito de estar desesperada!
- É... e você está desesperada?
- Não.
- Todos sabemos que vamos morrer. E lutamos ardentemente pela vida afora... E tentamos viver cada vez mais e melhor. Mas viver é mais complicado quando se tem um futuro. Como você só tem o presente não precisa se preocupar com o que há de vir. O que há de vir não é pra você sofrimento, porque sofrimento é só o presente...
- Eu morro e vocês ficam vivendo sem mim. Me sinto muito sozinha... eu vou e todo mundo fica...
- É verdade... mas também pode ser que eu morra antes de você. Quem sabe? Daí, você fica sozinha em vida. Parece que se pode prever o dia da sua morte, mas não se pode prever o meu... porque eu tenho saúde e posso morrer antes de você que não tem.
- Eu sei. Mas não devia estar desesperada? Não devia estar chorando e sofrendo por não ter futuro a minha espera? Eu não vou fazer um monte de coisas que você pode fazer: não vou estudar nem trabalhar, não vou casar nem ter filhos... eu nem posso me apaixonar, porque vou morrer. Eu não tenho esperança...
- Nem eu...
*baseado em fatos reais
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Diabólico, o demônio...
Diabólico, o demônio me sorri sedutor. Da forma mais delicada me oferece o irresistível: a mais crua felicidade que nunca tive. E destrói minhas defesas com muito cuidado.
Diabólico, o demônio quer a minha harmonia na terra. Quer que desfrute de todas as delícias do corpo. Quer me ver, delirante e cega de amor, arquejar no entorpecimento do gozo.
Diabólico, o demônio me quer como nunca ninguém me quis. Serpenteia a minha volta e me deseja com olhos dengosos e fala galante.
Diabólico, o demônio me ama, como Deus nunca amou... Me toma nos braços e afaga e promete prazeres sem fim.
Diabólico, o demônio incendeia minha pele. E é para mim que prepara com carinho intenso a minha vaga no caldeirão do inferno.